sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Férias


Oi, pessoal!

Escrevo para avisar que vou me ausentar das lides das letras... só por uns dias...
uma folguinha para renovar o repertório e descansar o corpo.

Logo volto com publicações, já no início de março.

Um beijo grande

Adriane Lorenzon

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sociedade meia-boca


(Arte: autoria desconhecida)

Tenho me segurado para deixar pessoas mais habilitadas escreverem sobre o Big Brother da rede Globo. Irresistível coceirinha cresce e, então, cedo e meto a colher. Não quero tratar do possível estupro ocorrido diante das câmeras, se foi ou não abuso sexual, se houve racismo, se a menina também deveria ser escorraçada do reality show. Entretanto, o que gira em volta dessa polêmica? O que sabemos e fazemos da comunicação no Brasil? Quanto lixo insistimos em tolerar no rádio e na televisão? Sentimos algo podre no ar?

Meu amigo, professor de Serviço Social, da Universidade de Brasília, Perci Coelho de Souza, perguntava-me, na época da primeira temporada do BBB, em 2002, se a produção teria vida longa. “O Big Brother nasceu para ficar”, afirmei meio em dúvida. Afinal, não havia estudado ou assistido suficientemente a esse espetáculo dos horrores da indústria cultural. Intuitiva ou obviamente, acertei o prognóstico – vide as 11 edições seguintes. O primeiro mostrou a que veio e, nos demais, tudo piorou. Percebeu?

Só aumentou o estímulo ao sexo casual, relações irresponsáveis e interesseiras, excesso de bebida, futilidades elevadas à categoria de bens duráveis. E o dinheiro, a cada paredão, engordando os cofres da Vênus Platinada – como é conhecida a empresa da família Marinho. Recentemente, o Ver TV, apresentado por Lalo Leal Filho da TV Brasil, levantou a bola quanto aos disparates exibidos (e ocultados pelo diretor Boninho) a cada edição. Se em 2012 o problema é um estupro, no passado especulou-se gravidez, bulimia, e o que mais?

No capítulo V da Constituição Federal de 1988 estão os norteamentos da Comunicação Social do país. Os veículos devem seguir princípios básicos nas programações. Por exemplo: preferência a finalidades educativas [que produções de rádio e tevê nos educam?]; respeito aos valores éticos da pessoa e da família [o que significa respeito nas novelas?]; promoção da cultura nacional [quais “músicos” nos representam na mídia? quem são Manassés, Vital Lima, Selmma Carvalho?].

A licença das emissoras poderá ser suspensa. Está na lei. Porém, tornou-se hábito dos cidadãos, também donos dos canais, pois são bens públicos, ficarem quietinhos deixando os empresários, ditos proprietários na prática, resolverem suas (ir)responsabilidades e decidirem o que queremos assistir e ouvir. E assim, vamos engolindo porcarias. Há quase 24 anos, entidades sociais batalham pela instituição, de fato, do Conselho de Comunicação Social – CCS, previsto na CF, para ajudar a definir as regras da comunicação brasileira.

Mas não avançamos. Hoje, nada acontece à estação que veicula conteúdo que promove comportamentos sociais rasteiros. Aliás, nadica de nada. Por que haveria alguma penalidade ao BBB? No rádio, há muita música estimulando a violência, o uso de drogas, relações casuais? Desligue. Mudar de canal talvez possa ajudar. Ao ouvir coisas edificantes, evoluiremos. Continue ouvindo imundícies que sua mente será uma pocilga. Se a programação está pobre, entendamos: a comunicação almejada é resultado de nossas escolhas nas urnas, no controle remoto, nas leituras que fazemos e na vida que levamos.

Por que autorizamos a Globo a manter um programa de tão baixa qualidade quanto o BBB? Por que não nos juntamos ao coro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação? Um dos nomes do movimento de ampliação do acesso à mídia, Daniel Herz, publicou A história secreta da rede Globo (1987). Para o autor, “há algo que só se começa a perceber olhando-se por trás da Globo. A maior parte do que se vê e do que se ouve na Globo só adquire coerência se estivermos atentos para o sentido de tudo o que lá se produz”.

Todavia, se aprendermos a olhar por trás da mídia em geral, deduziremos: somos capazes de barrar essa baixaria toda. Sempre digo aos meus alunos: “Precisamos reaprender a falar, a ver, a ouvir, a ler. Chega de sermos analfabetos funcionais”. O mundo em que vivemos exige que saibamos interpretar as entrelinhas, as pausas, os gaguejos, os silêncios. Outro dia, o jornalista Carlos Nascimento, ex-Globo e apresentador do Jornal SBT Brasil, desabafou indignado com o falatório em torno do BBB e do caso Luiza, a moça do Canadá: “Ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos, ou nos tornamos perfeitos idiotas. Já fomos mais inteligentes”. (Adriane Lorenzon)