terça-feira, 29 de maio de 2012

Oratória política


Querido amigo do Driloren Para Maiores, responda rápido e rasteiro:
Político deve entender de comunicação nos dias atuais? Há políticos que ainda não sabem o valor da comunicação numa campanha eleitoral? Apresentação pessoal e expressão oral ajudam a vencer eleições? Dá para ignorar a força da comunicação na sociedade em que vivemos?
Se você ficou em dúvida, está precisando aprofundar os conhecimentos na área, se for de seu interesse. Mas se você for político, candidato, aspirante a cargos políticos, dirigente de partido... é melhor pensar no assunto já.
Foi dada a largada para agendamentos do curso Treinamento de Mídia (media training) e Oratória Política com Adriane Lorenzon. Reserve já uma data. Monte turmas de 10 ou 20 alunos e entre em contato comigo. Municípios em que os partidos políticos não façam uso de programas televisivos como debates ou mesmo o horário eleitoral gratuito têm custo reduzido por participante.




sexta-feira, 18 de maio de 2012

Bolsa-cidadania


(Foto: autoria desconhecida)

Quando Betinho, o sociólogo mineiro, lançou a campanha “Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida”, em 1993, despertamos para uma consciência integral de que a vida do próximo valia tanto quanto a nossa e de que precisávamos fazer algo para minimizar as dores provocadas pela fome e a miséria. Começaram, então, a pipocar pelo país inúmeros comitês para recolher alimentos e oferecê-los aos necessitados. Todos queriam ajudar.

A Campanha da Fome é um marco quanto à organização dos brasileiros em prol de tema tão complexo – sem dono, qualquer um podia contribuir. O ator Paulo Betti, apoiador do projeto, diz em vídeo produzido pela TV Senado que Betinho tocava num ponto crucial: não adiantava falar de ética sem antes resolver a questão da fome. Na época, 32 milhões de habitantes viviam na miséria absoluta; hoje, o número baixou para a casa dos 16 milhões. Um dos slogans insistia em nos cutucar: “Fome, não dá pra esquecer”.

Recentemente, numa conversa polêmica com uma conhecida – e eu estou me educando para fugir de controvérsias vãs, pois não levam a nada – observei como tal figura estava sendo reacionária. Repetia um discurso que aprendeu por aí, talvez nem fosse dela essa linha de raciocínio. Dizia-me que quem ganha o Bolsa-Família não precisa nem quer trabalhar, ou seja, está só vagabundeando e o governo custeando esse comportamento.

A divergência ocorreu porque a criatura se amparava em uma opinião conservadora. E eu defendia uma postura mais justa socialmente, portanto, menos ortodoxa. E por quê? Porque a dor alheia me dói. Como saber da miséria dos outros e não fazer nada? Como apontar o dedo para aquilo que não se vivencia? Nesse sentido, tenho procurado desenvolver uma visão mais humanizada – não estou pronta, mas avanço a cada dia, tentando melhorar meu estar no mundo.

Vamos entender: seres boçais são aqueles que veem tudo sob o prisma do julgamento sem vivenciar ou, pelo menos, estudar a situação daquilo que julgam. Geralmente são teimosos, não admitem outra versão dos fatos que não a deles. Ignorantes, indivíduos reacionários se apegam sobremaneira ao instituído, por exemplo, quanto à miséria e ao difícil viver – dos outros. Mudar para quê, se para mim está bom, devem pensar.

Contudo, gosto de escarafunchar a vida. Considerei que a moça pudesse ter alguma razão. Assim, parti para a pesquisa empírica – fui passear pelas ruas de cidades em que trabalho e fazer aquilo que aprendi com Sócrates – acho que aprendi: observar. Vi um país se desenvolvendo: não por obra deste ou daquele partido, mas por ações que vêm sendo realizadas ao longo de décadas, e, aos poucos, bem aos poucos, melhoram a cara do Brasil.

Claro, a fase de saciar a fome poderia se fundir agora (pois ainda há famintos) à nova etapa de realizações: elevar a qualidade dos programas de saúde, reformar a educação e a política, regular a comunicação, criar políticas públicas de segurança e de combate à drogadição, gerar trabalho e renda, fazer uma eficiente e eficaz reforma agrária... Ou seja, uma sociedade sustentável, justa, autônoma. Façamos aquilo que Betinho nos instigou: realizar o exercício amoroso da cidadania onde quer que nos encontremos. (Adriane Lorenzon) 

sábado, 5 de maio de 2012

Mastigar pra quê?


(foto: autoria desconhecida)

Claro que você já acordou com uma canção na cabeça e ficou o dia inteiro com ela grudada feito chiclete. Aquelas decoradas, beleza, são cantadas do início ao fim. E as que se sabe apenas uma frase ou o refrão? É um martírio porque a melodia persiste e a letra vira nãnãnã. Se a música é de qualidade superior, meno male. Mas e se for dessas infernais, de gosto duvidoso, que a gente conhece porque foi “obrigado” a ouvir?

Dizem que a perenidade das músicas de baixa qualidade (sob o ponto de vista da elaboração técnica, poética, melódica, instrumental) não existe, pois não criam raízes, são feitas para deglutição rápida por um número acentuado de consumidores sem fome. Comem por comer, por estar na moda, pela imposição da mídia e não porque têm ânsia por algo mais requintado no cardápio cultural de sua lista de preferências musicais.

Então, será que há um tempo específico para tais músicas serem esquecidas? Consideremos as novas tecnologias, o acesso fácil por meio das seleções pessoais, as redes sociais, a disseminação e troca de arquivos entre blogueiros, colecionadores, internautas em geral. Até eu, ou mesmo você, que não sou consumidora de sertanejo universitário, funk, brega, pagode, axé, lembro-me perfeitamente de trechos dos tipos citados.

Saca só. Não preciso nem escrever a letra inteira que dá para recordar a melodia. Faça o teste. “A nova loira do Tchan é linda” (É o Tchan); “Baba baby, baba” (Kelly Key), “Nossa, nossa” (Michel Teló); “Amor, por favor, não desligue o telefone” (Djavu). O problema não é o gosto musical de cada um, e, sim, a formação do gosto musical individual por meio da massificação de um grupo de “músicos” em detrimento da invisibilidade de tantos outros.

É muito chato ligar o rádio na região onde nasci no Sul do país e raramente ouvir uma música que não agrida os ouvidos. Ou, por exemplo, estar às margens de um rio como o Juruá, entre o Acre e o Amazonas, e em vez de soar uma canção local no telefone do moleque que passa por mim, tocar uma dupla de sertanejo universitário “cantando” qualquer coisa conhecida como a música do Neymar. É triste, deprimente, embora compreensível.

Esse mal – que eu chamo de necessário – nos serve para atiçar a urgência do debate. Está mais do que na hora de fazermos uma virada cultural. A começar pelos professores: refinando seu gosto artístico para fomentar a ampliação e pluralidade cultural de seus pupilos dentro e fora da sala de aula. Desse modo, as famílias seriam incluídas num efeito dominó que afetaria, por fim, toda a sociedade – mais crítica, autônoma, tolerante com a diversidade.

Sim, a mídia faria o serviço mais rapidamente. Contudo, ela toparia frear a própria sanha pelo dinheiro fácil? Os movimentos sociais pró-democratização da comunicação lutam para que outras vozes sejam tocadas e ouvidas no rádio, na tevê, na Internet. Mas, enquanto não sofisticarmos o paladar e entendermos que nossos ouvidos não são lixeira, continuaremos a ouvir porcarias. O livre arbítrio se faz quando temos consciência da vida, comparamos situações compreendendo o ambiente ao redor e podemos escolher com independência. (Adriane Lorenzon)