segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O amanhã


Foto: Adriane Lorenzon


O que fazer para que a vida seja diferente no próximo ano? Não é mais possível esperar pelo outro – governo, professor, chefe, vizinho –, que ele faça alguma coisa para mudar a nossa dinâmica de vida, ou culpar o próximo dos fracassos nossos de cada dia. E os prováveis sucessos onde estarão? De quem é a responsabilidade?


O tempo é o senhor absoluto das benditas ou malditas agendas, calendários e relógios do cotidiano. Mas a decisão de dividi-lo em prioridades é milimetricamente tomada pelo livre-arbítrio que nos impulsiona inevitavelmente ao progresso. Cada um é responsável por fazer da própria vida um caminho radiante de escolhas que beneficiem ao menos o ambiente ao nosso redor ou um percurso de dores e dificuldades que detonarão o ânimo de quem se aproximar de nós. E trilhar ou não esse grande sertão é decisão individual.


Muitos aproveitam a transição de dezembro – o fim de um ciclo – para janeiro – o início de outra etapa – para “dizer” (em vez de tomar) decisões como parar de fumar, cuidar do meio ambiente, ser mais tolerante e compreensivo, amar mais. Ou seja, tudo é só da boca para fora. Na primeira oportunidade de testar a si mesmo se conseguiu resistir às tentações que a vida impõe nos intercâmbios sociais, encontra-se uma óbvia conclusão: “Eu não consigo”. E logo ali em fevereiro a vida continua do mesmo jeito de antes.


E como fazer para fomentar a determinação e disciplina necessárias para avançar e mudar definitivamente o status quo? Aí meu amigo, só com uma modificação interior tremenda em que se faça levantar poeira, derrubar tijolos, checar alicerces. E quem já fez uma reforma qualquer em casa sabe que isso dá trabalho, o serviço atrasa, o orçamento estoura, o piso arrebenta, a tinta não era bem “daquela” cor, enfim...


Mas quem quer pagar o preço de realizar um melhoramento interior? Quem quer parar de pensar só no material, no dinheiro, no trabalho, no ego, no umbigo particular, no eu, eu, eu? Quem quer dividir as fatias da pizza das prioridades e eleger um tempo para o amor incondicional, o desapego da matéria, o outro, as coisas do espírito?


Se você se identificou com esses três últimos questionamentos, então já tem adormecida a semente da diferença, da metamorfose. Agora é regá-la com água fresca e permitir que a luz invada esse pedaço de terra esperançoso. Arregace as mangas e não se iluda que a tarefa seja fácil. Em compensação, a viagem é incrivelmente fantástica!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Citra petita


Foto: O Globo, 1985.


Circula pela Internet um texto raivoso sobre a vida pessoal do cantor e compositor carioca Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza. Esse cara escreveu versos de uma poesia particularmente marcada pela irreverência e rebeldia típicos de sua época: os anos 1980. Letras como Vai à Luta – com Rogério Meanda – ou Boas Novas em que diz “senhoras e senhores, trago boas novas, eu vi a cara da morte e ela estava viva”, ou ainda Brasil – parceria com George Israel e Nilo Roméro – “Não me sortearam a garota do Fantástico, não me subornaram, será que é meu fim? Ver TV a [sic] cores na taba de um índio, programada pra só dizer sim, sim... Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim”.


Mas esta blogueira não tem a intenção de discorrer sobre Cazuza – nem quanto ao homem nem quanto ao artista. E sim, sobre a infelicidade de se escrever e propagar ideias constrangedoras sobre a moral do outro, no melhor estilo “atiro a primeira pedra”. Entendo que a Internet é uma ferramenta indispensável para a democratização da informação, pois sem ela, teríamos mais dificuldades em escrever e, principalmente, distribuir nossas opiniões mundo afora. Mas fiquei surpresa ao checar na pasta de entrada de minha caixa postal quem eram os remetentes: amigos queridos, alunas, parentes. Confesso que em parte me conhecem, porque têm a liberdade de expressarem suas emoções. Outro tanto, desconhecem da minha alma, o que é plenamente aceitável.


Ocorre que a autoria (dita do ramo da psicologia) comete alguns equívocos. Assim e, por isso mesmo, merece uma análise. Com um emaranhado simplório de letras soltas (e agressivas), o texto nos incita à violência, ao desamor, ao não-perdão, ao julgamento. Quem sou eu ou você para julgarmos a mãe e o pai de Cazuza como exemplos a não serem seguidos? (Você conhece Lucinha Araújo e a Sociedade Viva Cazuza?) Como afirmar, de cima de um pedestal, que a morte do poeta foi causada pela “educação errônea” dada a ele sem valorizar que tudo o que vivemos, inclusive a morte, pode ter como explicação o uso do livre-arbítrio? No entanto, considera-se possível estudar a vida pessoal de um indivíduo desconhecido ou de renome, desde que a pesquisa se dê com fundações sólidas em argumentos abrangentes e não superficiais e preconceituosos.


Destaco, a seguir, três aspectos que me interessam mais, e tomo a liberdade de priorizá-los seguindo a linha editorial do blog Driloren Para Maiores.


Espiritual: estamos neste Planeta para evoluir, isto quer dizer que somos perfectíveis, e não seres exatos, perfeitos e incorrigíveis, pois temos difíceis lições a serem vividas e assimiladas. Daí que eu, Cazuza ou você não nascemos num mundo angelical onde reina o amor e a paz, e as dificuldades são superadas com cada vez mais amor, paz, e bem. Cada um segue a jornada ditada pelos próprios passos, decisões, enganos e acertos. Olhe o mundo ao redor historicamente e observe o quanto a humanidade já progrediu, mesmo que haja ainda tanto a melhorar. Simples assim.


Outra forma de se analisar o texto evocado (sem título definido, mas que a maioria remeteu como “Psicóloga x Cazuza” e o deprimente “Um idiota morto”) é artisticamente: um artista deve ser analisado pela sua obra e não pelos liames pessoais. O quanto se conhece da vida pessoal de Roberto Carlos? O que se sabe da vida doméstica de Elis Regina? Ou, por fim, da vida particular de nossos pais, irmãos, amores e amigos em suas intimidades? Curtirão prazeres escondidos por não terem liberdade ou coragem para assumi-los? O que isso importa? Não dá para ser raso ou metade na vida. Há que ser inteiro.


O fato de a filha da dita autora ter assistido ao filme é outro papo. Teríamos de aprovar, por exemplo, leis (e, por extensão, representantes mais espertos, dinâmicos, inteligentes) que coibissem, justificadamente, exibições e irradiações públicas – como em cinemas ou canais de rádio e tevê – de produtos artísticos e comerciais que estimulem o sexo, o uso de drogas, incluindo aí bebidas, em horários impróprios para menores, se for o caso da filha da suposta autora. A fiscalização poderia sobrevir por intermédio de personagens engajados, fruto da cidadania exercida.


Eu não poderia deixar de angular estas linhas no que diz respeito ao mundo midiático – um mundo à parte e ao mesmo tempo intrínseco ao modus vivendi de cada um. A sociedade investe pródigos crédito e valor nos meios de comunicação. E não poderia ser diferente se analisarmos a informação sob a ótica da identificação das pessoas com o que e como é veiculado neles. A partir do surgimento da dobradinha Sociedade de Massa x Indústria Cultural foram construídos “produtos” sem o devido estímulo ao uso do exercício do questionamento, do aporte da criticidade em assimilar o que a “obra” de nomes como Kelly Key ou Bonde do Tigrão, só para citar brasileiros, fazem em nossas vidas. Isso só no aspecto profissional... mas quem sabe dizer como é o verdadeiro comportamento desses seres, no âmbito privado, ou seja, nos ambientes fora do alcance das câmeras? Nas esferas privada ou pública, seriam eles modelos, padrões?



Eu poderia ficar contra-argumentando a nossa entendedora da psique de plantão. Mas não é o caso. É certo que eu não quereria uma “profissional” assim para me ajudar a entender os medos, receios, desejos, limitações, e outras dores da alma constitutivas do ser que evolui. Sinto pena por tanta raiva distribuída ao mundo. E pena entendida aqui como sinônimo de compaixão.



E já que o polêmico Cazuza é a fonte desse diálogo, encerro citando-o em Como Já Dizia Djavan (parceria com Frejat): “Só quem tem os sonhos mais básicos, pode amar e dizer a verdade”. Agora, psit! Silêncio! Leia o poema feito por Cazuza e João Rebouças, chamado Quando Eu Estiver Cantando:

Tem gente que recebe Deus quando canta
Tem gente que canta procurando Deus
Eu sou assim com a minha voz desafinada
Peço a Deus que me perdoe no camarim

Eu sou assim
Canto pra me mostrar
De besta
Ah, de besta

Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio
Quando eu estiver cantando
Não cante comigo

Porque eu só canto só
E o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação

Porque o meu canto redime o meu lado mau
Porque o meu canto é pra quem me ama
Me ama, me ama

Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio
Quando eu estiver cantando
Não cante comigo

Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio

Porque o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação
Porque o meu canto é o que me mantém vivo
E o que me mantém vivo



Visite www.cazuza.com.br ou www.vivacazuza.org.br

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Rádios Comunitárias e o Poder Local


Foto: Sandro Medeiros
Adriane Lorenzon e o poder local de Tenente Portela





As rádios comunitárias foram tema novamente de palestra no dia 5/12 em Tenente Portela-RS, dentro da programação da Expotenpo 2009. Apesar de um público pequeno, fez-se um diálogo extremamente importante sobre a participação das comunidades na programação das rádios comunitárias e o empoderamento do cidadão nas questões relacionadas à comunicação brasileira.


Entre os participantes, líderes sindicais, religiosos, da área da saúde e professores. Após a palestra foi servido coquetel e realizada a sessão de autógrafos.


domingo, 6 de dezembro de 2009

Garagem Elétrica

Adriane Lorenzon no comando da festa
A primeira edição do festival Garagem Elétrica em Tenente Portela-RS contagiou o público na sexta-feira, 5/12, com muito rock-pop . E só som independente, feito por bandas gaúchas que estão fora do cenário da grande mídia. Tudo bem que elas invariavelmente tocaram covers como, por exemplo, a Creedence Cover Revival. Os meninos da banda agitaram a tímida plateia com cópias de canções já massificadas desde os anos de 1960 e 70 pela banda estadunidense Creedence Clearwater Revival, dos irmãos Tom e John Fogerty. Mas todas arriscaram bonito ao tocarem canções de autoria própria, o que nos coloca um pouco de esperança e ânimo em novas possibilidades musicais no futuro. As bandas participantes foram Impressão Digital (Palmeira das Missões), Suburbanos (Frederico Westphalen), V8 e Tá e Daí (Ten. Portela), Creedence Cover Revival (Santo Ângelo) e Coronéis da Vicente (Porto Alegre).
Adriane Lorenzon entrevistando Ibanez, vocalista da Coronéis da Vicente
Convidada por Nilson Rosa Lopes [Pena], da Comissão Central, esta blogueira fez a apresentação da noite das guitarras e bateras. Muita gente gostou da performance da mestre-de-cerimônias mas demorou demais a se soltar, seja para dançar ou mesmo para se aproximar do palco. E não venha dizer que cada um curte o som como quiser... porque é no mínimo estranho a maior parte do público ficar paradona ao som elétrico e eletrizante de canções de artistas reconhecidamente empolgantes nas pistas: Doors, Creedence, David Bowie, Jota Quest. Mas tudo bem, vamos abrir outras Garagens Elétricas e trazer muito rock para a região. Afinal, quanto ao sertanejo universitário parece até que quem diz gostar, não aguenta mais. Prova foi o público reduzido no show da noite seguinte de César Menotti e Fabiano.