Arte: autoria desconhecida
Toda vez que
preciso tomar uma decisão difícil, paro, escrevo os prós e contras, e lá no fim
do esboço, acrescento o item “o que sinto”. Isso serve para eu exercitar o
discernimento, sem deixar de ouvir a voz interior. Ou seja, reflito sobre o
tema com minha racionalidade, porém considero o que fala o sentimento, a
intuição, o que alguns denominam sexto sentido. Dessa forma, tenho domínio
sobre a decisão a ser tomada e evito autovitimizações.
Seguir o coração
ou a intuição, que na prática dá no mesmo, não é tarefa simples. Exige coragem e,
principalmente, autoconhecimento para escutar o que está falando alto no
fundinho da gente. Para tanto, é preciso silenciar. Foi o que aconteceu comigo
em 1996, depois de um curso realizado
na Universidade de Brasília. De volta a minha cidade no Sul do país, dentro de mim, uma voz, imperativa,
mandava: “Saia do Rio Grande do Sul”.
Lembro-me que foi
a primeira vez que ouvi a intuição de modo tão expressivo. Não sabia direito do
que se tratava. Além do mais, não costumava viajar, não tinha um emprego me
esperando em outro lugar, mas era certo que precisava “voar as tranças”. Decidi
pegar um ônibus a Palmas no Tocantins. Contudo, parei em Brasília para um
passeio. E fiquei. Consegui trabalho em três dias na capital federal – ela é bem
generosa...
Depois, amadureci
a relação com a intuição que já não me parecia uma estrangeira. Eu sabia
exatamente a diferença de um pensamento da mente racional, digamos assim, e do
que vinha acompanhado de intuições, que está num locus transcendente. Hoje, parece-me tudo tão óbvio. Todavia,
precisei ser avisada pela intuição, porque se fosse só por conta própria, podia
pegar outros rumos, outras veredas.
Um dia, chorei
horrores. Sem motivo aparente, não conseguia parar. Meu namorado e suas duas
filhas tentavam me consolar, e eu, aos borbotões. Queriam saber o que se
passava para tentarem me ajudar. Entre soluços, disse: “Não sei, sinto que algo
muito grande está para acontecer”. Podia ser bom ou ruim; entretanto, mudaria a
minha vida para todo o sempre, e adormeci com essa certeza.
Após algum tempo,
na luta com o câncer de minha mãe e todo o nosso envolvimento (pois ficamos
muito unidas), entendi tudo. Viver ao lado dela nos últimos 13 meses de sua vida na Terra foi a coisa mais
linda, extraordinária, fantástica, excepcional da minha vida. Embora extremamente doloroso. A intuição me cercou de orientações
anos antes, como que me dizendo: “Te prepara”. E passei, de fato, me preparando
para viver meu grande amor.
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