sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tabagismo: doses para o suicídio

(Foto: autoria desconhecida. Plantação de fumo comum no Sul do Brasil)

Em 31 de maio, dia mundial sem tabaco, lembrei-me de uma conversa, certa feita, com alguém que me disse uma pérola: “Se fumar é morrer aos poucos, não tenho pressa de morrer”. E se o argumento é nesse nível, vou logo abrindo o jogo: o problema não é, necessariamente, a morte que o cigarro causa, mas o sofrimento antes dela. As dores, a falta de ar, ou ainda, não ter um ente querido sem nojo de catarros e outras secreções para cuidar desse enfermo. Parece fácil?

Por meio de leituras, conversas com médicos e doentes de câncer, posso afirmar que adoecer devido ao uso de fumo é um tipo de suicídio. Pesquisas apontam: de cada dois usuários de tabaco, um vai ter câncer. Sem falar nos fumadores passivos. E se a morte provocada pelo cigarro, com padecimentos dolorosos, é o caminho mais provável na trajetória de um fumante, não há outra chance a não ser cair fora. Ou dirigir-se, espontaneamente, ao precipício. Aí é escolha, mesmo.

Pode ser que o sofrimento pré-morte não ocorra aos adeptos da droga nem aos “caretas”. Mas a possibilidade é sempre maior ao fumante. Isso é lógica e é ciência. Está comprovado. Entretanto, depois de parar de fumar, o ex-usuário de tabaco e derivados já sente benefícios. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, após 20 minutos da última aspirada a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal. Duas horas depois, não há mais nicotina circulando no sangue. Entre 12 e 24 horas, os pulmões funcionam com mais autonomia. É uma melhora crescente e constante.

Anualmente, a prática tabagista mata 200 mil brasileiros e, no mundo, cerca de cinco milhões de indivíduos. A maioria começou a consumir antes dos 19 anos. Infância e juventude sempre foram os principais alvos de campanhas publicitárias agressivas da indústria do fumo.
Tudo para convencê-los, estrategicamente, a serem adultos seguros, poderosos, saudáveis, irresistíveis. Diariamente, 100 mil crianças tornam-se fumantes no mundo. São elas que vão financiar as companhias fumígenas nas próximas décadas e recebem dessas empresas o título de “reservas de abastecimento”. Cruel, não?

E as vítimas se multiplicam porque a nicotina funciona do mesmo modo que todas as drogas causadoras de dependência, como álcool e cocaína. É substância psicoativa e faz parte da Classificação Internacional de Doenças – CID. Portanto, tabagismo é doença, sim. A nicotina atua fechando aquelas lacuninhas de angústia, decepção, tristeza, frustração do indivíduo ao longo dos anos. A funesta nicotina e as demais 4.699 substâncias encontradas num cigarro dão falsas sensações de prazer a quem fuma.

Observe. Embora o cérebro se alimente do “conforto” gerado pelo tabaco, a saúde do fumante vai degringolando. Daí o pseudoprazer. Os sinais podem custar a aparecer e muita gente demora a se dar conta da bomba-relógio em seu tórax. Com a ingestão contínua de nicotina, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o nível de satisfação do início. Por isso a dificuldade de encontrar saídas sozinho e a necessidade de ajuda externa.

Enquanto se é jovem, tudo certo. Mas e na velhice? Como cada organismo irá reagir? Imagine-se daqui a 20, 30, 50 anos... Um velhinho cheio de saúde! E se for o contrário? Imagine-se também e busque alternativas agora para fazer valer a primeira opção de futuro. Estimule habilidades para resistir às tentações de fumar. Evitar ambientes e pessoas que o façam desistir de tal propósito é um bom começo para o fim do tabaco em sua vida. Estudos mostram: cerca de 80% dos fumantes querem parar de fumar.

Portanto, o ponto central da cessação de tão terrível vício é a mudança de comportamento, dizem os especialistas. Verifique o quanto você está disposto a transformar-se. Previna-se contra recaídas com um querer e agir profundos. Trata-se de um pequeno grande passo para a sua liberdade. Porque, convenhamos, ser “feliz” a partir de amarras e prisões é pura ilusão. Você é o ator principal do espetáculo de sua vida. Cabe a você representar bem esse papel.

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