sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Invejinha branca

Que história é essa de colocar no diminutivo a palavra inveja para amenizar o efeito do significado que é todo sustentado na cobiça por algo que não nos pertence ou que não somos? Pior ainda: junta-se o adjetivo branca para justificar que se fosse negra seria, por assim dizer, uma inveja inveja? Alguém me explica isso, por favor?

Ai, ai, ai, ai, ai, como diria minha amiga Rita. Tem caroço nesse angu. Vamos colocar uma lupa e dar uma analisadinha básica nessa expressão dita por tantos ao nosso redor com a maior tranquilidade sem pestanejar nem perceber que estão contidas ali cargas e cargas de equívocos.

Ora, só quando o ser humano admite a si mesmo suas fraquezas, limites e alcances é que consegue avançar rumo a outros mares dimensionais. Ao afirmar que tal funesto sentimento é pequenino e de cor branca, a inveja então nos parece algo ameno, leve, sem o tanto de maldade que o vocábulo no grau normal carrega.

É comum observarmos que além da inveja existe a admiração. Também há casos em que a inveja é o mesmo que desgosto com o sucesso alheio. Mas é preciso diferenciar a admiração saudável da doentia cobiça. Admiração tem a ver com deleite, prazer, respeito, apreço. Inveja com coisas nada benfazejas; não por acaso, escolhida pelo catolicismo como um dos sete pecados capitais.

Mas como encontrar equilíbrio? Se você deseja imensamente ter um carro que um conhecido já possui, esse não é o problema. Muito menos se admira um feito de alguém ou deseja um novo brinquedinho tecnológico. O quiproquó ganha dimensão quando esse bem material passa a ser a razão da sua vida, o motivo da insônia ou do seu olhar torto para quem já possui o tão almejado objeto de desejo. Logo essa confusão interior vai ganhando força, tomando proporções em que só angústia e tristeza têm sentido.

Um colega me disse, em certa ocasião, que havia quem sentisse inveja de mim no ambiente de trabalho. Argumentei negativamente, pois eu não ocupava nenhum cargo de status elevado nem mesmo o salário era substancial para alguém almejá-lo. Então, olhou no fundo de meus olhos e disse: “E seu sorriso, quem é que tem”?

Como um ácido corrosivo, a inveja anda sorrateira dentro de nós e por isso é preciso instalar armadilhas para capturá-la. Ela é irmã siamesa do orgulho, é esperta e se alimenta de olhares que insistem em não mergulhar fundo na alma humana. Às vezes, se traveste de borboleta e voa leve na aparência. Mas há fantasias que não lhe servem; sobram pedaços de pano sem cor, cheios de podridão e azedume. É fácil reconhecê-la.

A inveja, o orgulho e o egoísmo devem ser extirpados da Terra. Sem esse trio da pesada, cada ente que compõe o mundo poderá contribuir muito mais para a paz, a justiça, a decência e o surgimento de cidadãos planetários com noção consciente do que estão fazendo aqui.

2 comentários:

  1. Dri, eu poderia escrever aqui um enorme comentário sobre a inveja, mas, diante de tudo que escreveste, só posso concordar que é isso mesmo...

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  2. Dri, concordo em numero, genero e grau.Inveja é inveja, não importa o adjetivo que colocarmos a seu lado.
    Mag

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