(Arte: autoria desconhecida)
De vez em quando me vem à mente a minha vaga imagem no
futuro. Como serei quando crescer? Uma das perguntas mais praticadas na
infância serve agora em outro contexto e sentido. Como serei quando alcançar a
plenitude da vida, a velhice? Como quero ser e o que estou fazendo para me
tornar melhor? Serei rabugenta, mal-humorada, fofoqueira? Ou generosa,
indulgente, menos reativa, mais compreensiva?
Outro dia tomava o café da manhã no restaurante do hotel,
numa cidade em que não há o costume de pessoas estranhas dividirem a mesma
mesa, que eu acho o máximo, diga-se de passagem. E uma velhinha de cabeleira
alva sentou-se comigo, sem dizer bom dia, com licença, ou um sorrisinho amarelo
que evidenciasse civilidade. Em troca, fiz um gesto de que aquilo era
absolutamente normal e que ela era bem-vinda.
Como sou socrática até debaixo d’água, fiquei me
questionando. Por que alguns idosos são amargos, até meio estúpidos, e outros
são tão ao contrário? Resposta óbvia, diz o leitor: porque as diferenças
existem em qualquer idade. Daí eu concluo: assim somos se assim nos
construímos. Já percebeu que tem velhinho que morre reclamando da vida enquanto
outros até o último momento distribuem pílulas de sabedoria?
Como serei quando crescer? Sempre divulguei aos quatro
cantos que belíssima mesmo serei aos 60 anos. Idade, em que, imagino, estarei
plena, no auge da existência. Talvez eu nem viva até lá e isso seja a maior
bobagem. A maturidade nos oferece, aos poucos, uma espécie de riqueza que
ninguém nos tira. No entanto, podemos compartilhá-la na maior prodigalidade o
tempo todo, basta que estejamos atentos ao nosso redor.
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