sexta-feira, 31 de maio de 2013

É o meu jeito

Sônia Braga e a personagem Gabriela de Jorge Amado - 1975 (foto: autoria desconhecida)

Se o assunto é convivência, ambiente de trabalho, família, é comum ouvirmos: “Esse é o meu jeito, todo mundo tem uma maneira de ser e as pessoas precisam me respeitar”. Ainda mais se concluirmos que nas interações humanas é necessário que tenhamos uma dose de paciência, um bocado de tolerância e, quiçá, um punhado de compreensão. Entretanto, o lado conveniente dessa frase me incomoda muito. Outro dia ouvi de novo: “Eu sempre fui assim”.

Como diria um personagem de uma novela: “Epa, epa, epa, epa”! As coisas não são bem assim. Não nascemos com a Síndrome de Gabriela. Lembra-se daquela música? “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela.” A letra é de Dorival Caymmi e foi imortalizada na voz da também baiana Gal Costa. Os versos parecem alertar sobre a zona de conforto que pode se instalar e permanecer em nós por toda esta existência.

Pessoas que costumam usar essa máxima, geralmente, se apoiam nela para continuarem a ser: carrancudos, fofoqueiros, mal-humorados, corruptos, abusadores, gritões, enganadores, e toda a sorte de tipos que adoram, veneram tal sentença. Sem falar naqueles que insistem em usar uma viciação para “obrigar” os outros a “curtirem” o hábito igualmente, sugerir que só dessa vez será usado o jeitinho brasileiro, causar polêmica para ver o circo pegar fogo...

Entendo que, se vivemos em sociedade, o coletivo se faz presente e precisamos aprender a nos portarmos, de modo equilibrado, nesses grupamentos em que transitamos. Entendo que devemos respeitar o próximo sempre que conseguirmos (infelizmente nem sempre alcançamos êxito devido a nossa falta de habilidade com as diferenças). Entendo que as pessoas gostam de ser respeitadas (e eu também) em suas características mais peculiares.

Contudo, há outra fala popular que eu adoro: “Se não ‘guenta’, por que veio”? Se não damos conta de segurar nossos ímpetos mais baixos, não podemos viver em coletividades. Para isso existe o cume das montanhas. Porém, no contato diário – e sendo seres sociais vamos ter de coexistir – “o meu jeito” deve ser melhorado para que haja um mínimo de harmonia. Seria péssimo imaginar que as pessoas com quem convivemos apenas aguentam o nosso jeito insuportável. Em contradita, é maravilhoso pensar que podemos evoluir ad infinitum. (Adriane Lorenzon)

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