O grito ( autoria: Edvard Munch)
O título acima é o mesmo de uma canção de Arnaldo Antunes e
Carlinhos Brown. Os versos revelam desde quando o silêncio faz parte da vida. “O silêncio foi a
primeira coisa que existiu, um silêncio que ninguém ouviu, astro pelo céu em
movimento e o som do gelo derretendo, o barulho do cabelo em crescimento e a
música do vento e a matéria em decomposição, a barriga digerindo o pão,
explosão de semente sob o chão, diamante nascendo do carvão”.
Tão
importante é esse cara chamado silêncio que um dia alguém inventou que ele
merecia um dia especial: sete de maio. Quase ninguém sabe disso; o barulho fala
muito alto por aí... É que as sociedades ocidentais não aprenderam sua
importância e como usá-lo. Esse instrumental variado e ao mesmo tempo único. O
silêncio pode ser tanta coisa: quietude, discrição, pausa, incômodo, mistério, estratégia,
medo, ruído, ausência, sossego, inquietação, segredo, paz...
Numa
aula de psicanálise, ouvi de uma professora que os profissionais da área devem aprender
logo que o silêncio é sua melhor ferramenta. Usar o silêncio para não cair em
cilada, não ter de dar explicações. Pelo que ficou no ar, psicanalistas agindo
assim, não se trairiam nos atos falhos, no dito que revela tantas outras coisas.
Mas o silêncio, minha cara, pode dizer muito mais, desnudar tudo sobre o não
dito. E isso se tornar um grande problema também.
Sim,
ela tem razão em parte. Há uma máxima, dessas de almanaque, que diz que tudo o
que você disser um dia será usado contra você. Ou, pelo menos, será jogado de
volta na sua carinha linda. Por amigos e parentes inclusive que um dia ouviram
suas dores. A propósito, o silêncio é arma poderosa para atingir pessoas
que esperam respostas. Tem gente perita em ficar em silêncio, fugindo da raia
para não dialogar, tornando difícil a convivência harmônica.
Contudo, o silêncio é rei em dois momentos magistrais: na
música e na meditação. Na primeira, surge em forma de pausa, um gostoso
suspense como quando o percussionista abafa o som do prato com as mãos para apresentar
em seguida o som de água do pau de chuva. Na segunda, o silêncio está no
interior do ser. Meditar exige pouco. Pouco? Walter Franco diz que “tudo é uma
questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. (Adriane Lorenzon)
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