(Foto: autoria desconhecida)
Faz pouco tempo que descobri uma forma inusitada de
diversão. Se alguém me pergunta objetivamente onde moro, explico que a resposta
não é tão rápida de se fornecer. O engraçado está na cara de surpresa que a
pessoa me devolve. Porque para desvelar o mistério é necessário contextualizar
o indivíduo. Como todos, geralmente, estão com pressa, preciso ser objetiva, e
vou logo respondendo: “No mundo”.
Isso provoca no vivente um não sei quê de confusão. Às
vezes, para ser mais direta, acho uma solução próxima do lugar onde estou. Para
o interlocutor, tanto faz eu morar em Porto Alegre ou Brasília, Norte ou
Nordeste, viajar de avião ou carro, dormir em cama ou rede... Porém, dia
desses, ao falar que era cigana, olharam-me perplexos: “Sério”? Travessa, enrolei:
“Sim, mas não cigana, cigana, mas ainda assim, cigana”.
Quando saí da casa de meus pais em 1989 para buscar sentido
à vida, passei a perambular de trabalho em trabalho, de cidade em cidade. Em
poucos meses surgiam alternativas, e partia para possibilidades e desafios não
vividos. Minha condição cigana me ajudava a pedir demissão – medida fácil, mesmo
sem um emprego em vista. “Partir, andar, eis que chega, não há como deter a
alvorada”, canta Herbert Vianna...
A propósito, não leio a sorte pela quiromancia, tampouco insisto
que alguém especial vai pintar na vida de certa criatura. Também não julgo quem
o faça. Apenas sou meio nômade – instável e inconstante nos lugares que escolho
para viver. Como os antigos coletores, sirvo-me das farturas de algumas regiões.
Escassos tais alimentos, dirijo-me além, buscando terras, trabalho e frutos, sedenta
por novidades e conhecimentos.
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