(Arte: autoria desconhecida)
O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, tornou-se
famoso por conduzir de uma determinada maneira o navio desastrado no litoral
italiano. Ainda não se sabe o resultado da investigação, mas suspeita-se que o capitão
não tenha seguido uma das regras universais de sua profissão: ser o último a
abandonar a embarcação em caso de acidente. Não julgo a conduta dele porque não
tenho competência para tal intento. Meu objetivo aqui é outro. Porém, inspirei-me
no sinistro da ilha de Giglio para pensar sobre a deontologia das profissões.
Todo ofício tem uma característica, função, papel,
responsabilidade, normativas, regramentos, condutas, aquilo que é inerente à atividade
escolhida. Isso é a tal deontologia. Já tinha ouvido falar? Do grego, déontos quer dizer “o obrigatório,
necessário” e logos pode ser estudo,
ciência, tratado, discurso, expressão, conhecimento. No dicionário Aurélio a
definição é a seguinte: “estudo dos princípios, fundamentos e sistemas de
moral” ou “tratado dos deveres”. Agora, caro leitor, nosso encontro começa a ficar
interessante.
Embora de origem
mediterrânea, o termo foi usado pela primeira vez pelo inglês Jeremy Bentham,
em 1834. Segundo o filósofo, a deontologia é a “ciência do que é justo e
conveniente que o homem faça, dos valores que decorrem do dever ou norma que
dirige o comportamento humano”. Segundo
o internauta Francisco Nogueira Machado, a deontologia desvenda “os
pressupostos inseridos nas normas de conduta social pertencentes a todas as
fontes das quais emanam, ou seja, religião, moral, ética, direito, costume”.
No mundo do trabalho, sinto muito se você escolheu ser enfermeiro
e está cansado do plantão da madrugada ou se o policial levou um tiro no ombro,
vítima de emboscada de traficantes. O programa é ao vivo e começa às cinco da
manhã? Você é o locutor do horário e vive em região com o inverno mais rigoroso
dos últimos 50 anos? Tadinho. E da vida de professor, o que dizer? Não dá para
se fazer de vítima como se não se soubesse dos riscos e propriedades
particulares da esfera em que atuamos. Nem por isso deixaremos de lutar por melhorias.
Note. A deontologia profissional está em quase todas as
áreas regulamentadas. Eletricistas, médicos, advogados, psicólogos, pilotos,
assistentes sociais... Imagina se cada médico conduzisse os procedimentos cirúrgicos
do jeito que bem entendesse! Se jornalistas não tivessem freados os ímpetos de
inventar detalhes nas informações noticiadas! Psicólogos torturariam cabeças,
engenheiros edificariam futuros desabamentos, e por aí vai...
“A deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada
ao exercício de uma profissão”, explica o portal português psicologia.pt. E o
que uma coisa tem a ver com a outra? Ética, moral e deontologia estão
entrelaçadas até o pescoço. Não dá para imaginá-las separadamente. No Brasil,
usamos o termo código de ética. Em Portugal, código de deontologia. Ambos estão
sob a responsabilidade de associações; no nosso caso, CREA, OAB, CFP, FENAJ – alertando
correligionários a não cometerem faltas e se as tiverem praticado, adotando a
medida punitiva mais adequada para qualquer situação.
Conforme o site O Significado, a deontologia é “uma
teoria sobre as escolhas dos indivíduos (...) moralmente necessárias e (...)
para nortear o que realmente deve ser feito”. Lembro-me de uma técnica de um
posto de saúde desabafando diante das câmeras. Segundo ela, os usuários reivindicam
um melhor atendimento dos profissionais de saúde, mas o problema não está
nestes e, sim, no sistema. Será? A moça do jaleco branco escolheu trabalhar junto a um estabelecimento de saúde, num lugar
chamado Brasil, com características peculiares. Quando doentes e necessitados queremos
remédio e cuidados e, não, entender de políticas de saúde pública.