(Foto: autoria desconhecida)
Às vezes dá um desespero, a gente momentaneamente deixa de
acreditar que é possível mudar alguma coisa. Tem dias que a dúvida é cruel e se
faz presente em nossa vida. Bate à porta, entra pelas frestas, dá um jeito de
se infiltrar no mais íntimo para desestabilizar, quer ver o circo pegar fogo. E
a gente permite, se quiser. Contudo, o que move o mundo é a esperança, o ânimo,
a coragem, a vontade, o trabalho. Repito para mim mesma: “A esperança não é a
última que morre. A esperança não morre”.
Há inúmeros acontecimentos que nos fazem desacreditar num
mundo melhor. Assista a um telejornal sem se proteger psicologicamente e ficará
desnorteado. São pais abusando sexualmente de filhos, mães jogando as crias em
lixeiras, homens matando mulheres que antes eram seus xodós. As cracolândias se alastram pelo país com uma
enorme quantidade de mortos-vivos sem banho, comida, casa, dignidade. Autoridades
e especialistas afirmam, para nos desanimar ainda mais, que a guerra contra as
drogas está perdida.
Casos de corrupção, dólares em cuecas, malas recheadas de garoupas...
Realmente, dá uma vontadezinha de não acreditar mais. Propinas e vantagens para
a velha oligarquia e seus descendentes. Pesquisa feita logo em seguida ao escândalo
do primeiro “mensalão” apontava indicativo preocupante: se tivessem
oportunidade, os entrevistados, representantes dos brasileiros, roubariam
também. Então, parece certo: desejar, esperar e, pior, trabalhar por um
presente bom é pura perda de tempo – que se dirá do futuro?
Na BR 116, próximo a Osasco (SP), vivi uma situação desalentadora.
Num engarrafamento ao anoitecer, um caminhoneiro me alertou que aquele era um
trecho perigoso. “Há muito assalto por aqui”, perguntei. “Não, os caminhoneiros,
em alta velocidade, jogam a máquina pra cima dos carros pequenos”, confessou. Depois,
na prática, entendi o alerta recebido: caminhões com farol alto o tempo todo
forçavam a ultrapassagem para chegar a seus destinos. Os fins justificam os
meios, diria Maquiavel. Pedi proteção a Deus na empreitada “boca braba” que me
enfiei e segui. Dormi e acordei num hotelzinho em Miracatu (SP) – poderia ter sido
no céu.
Esse é só um exemplo de como o cotidiano nos oferece
estímulos para desistirmos de arregaçar as mangas: a morte planejada de gatos
com Estricnina, nossa “arte” atravessando fronteiras com refrões medíocres como
“nossa, assim você me mata, ai se eu te pego”, o transporte público aos
pedaços, a maledicência vertendo das línguas que parecem não se cansar, leis
favorecendo seus autores, salário altíssimo para uns e merreca para outros,
velhinhos sem os cuidados básicos de saúde... Como manter a esperança?
Caetano Veloso canta música de autoria dele: “Alguma coisa
está fora da ordem”. Outros afirmam que está tudo errado. Entretanto, perder
por W.O, jamais! “Eu tô de luto, mas não sem esperança”, ensina minha ex-aluna
Fernanda de Souza Lima. No fundo, no fundo, lá onde chamamos de coração, bate
uma força que alguns ainda não sabem de onde vem – está viva e se alimenta com
ações abnegadas de solidariedade, esperança, construção de autonomia e novas
condutas, acesso ao conhecimento.
Confio, sim, num mundo “pra frentex” quando alguém separa o
lixo na lixeira mesmo não havendo coleta seletiva em sua cidade, a televisão
exibe novela de cunho social, índios são respeitados por não índios, adultos
não bebem ou fumam na frente de crianças, candidatos não se elegem porque o
povo, finalmente, aprendeu a votar, a escolher, a exigir. Acredito na evolução
humana quando vejo a história deixando o mal para trás: os tempos bárbaros, a
guerra fria, as ditaduras, a escravidão... Já nos aperfeiçoamos bastante, isso
meus olhos conseguem enxergar.
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