(Foto: autoria desconhecida)
Já se foi o tempo em que a mulher
era considerada o sexo frágil; não abria a boca, a não ser para dizer amém ao
pai, ao irmão mais velho, ao marido; não se tinha direito ao voto; não
opinávamos; duvidavam de nossa capacidade cognitiva. Entretanto, na caminhada
da evolução humana ocorreu a ampliação das democracias, a luta pela igualdade
de direitos, o acesso de mulheres ao mercado de trabalho e à independência
financeira. Com isso, avançamos todos.
É certo que muito se perdeu com tais mudanças. O romantismo,
a gentileza, a feminilidade, a meiguice, a elegância, a maternidade – elementos
que foram sumindo, relegados a segundo plano ou substituídos pelas badaladas praticidade,
objetividade e competência. Nesse ínterim, surgiu uma mulher masculinizada. Uma
pena, eu acho. Contudo, altamente necessário. Agora, precisamos revisar esse incômodo
paradoxo.
Pesquisa da fonoaudióloga Maruska Rameck aponta: mulheres que
ascenderam a cargos importantes são as que falam com padrões próximos aos
masculinos. Se a submissão não servia mais, as mulheres se utilizaram de um
modelo (masculino) consolidado para crescer profissionalmente. Essa foi a
estratégia. Não se trata de máxima inquestionável, pois fatores genéticos e
ambientais influenciam na composição da voz. Mas revela-se aí um aspecto interessante:
deixamos de “ser” mulheres, em parte, para chegarmos lá.
No passado, éramos mais femininas, talvez porque tivéssemos
tempo de sobra para realizarmos a toalete, pensarmos no cabelo, no corte da
roupa, nas lides da casa, na educação das crianças. Hoje, a calça se impôs como
uniforme de grande número de mulheres. Observe. A calça é só a forma, o que a
gente vê. Há algo maior em jogo que não é evidente. Daí a necessidade de
reeducarmos o olhar, a fala, a audição, a leitura das coisas.
Às vezes brinco: vou escrever um livro invertendo o título da
obra que tornou Marta Suplicy um sucesso entre a mulherada nos anos 1980. Na
época, publicou De Mariazinha a Maria.
Edições como essa eram essenciais por reforçarem, nas brasileiras, aspectos
como independência financeira e psicológica, conhecer e buscar o orgasmo, direitos
iguais. Com outro enfoque e buscando atingir novos públicos, hoje eu daria o
nome De Maria a Mariazinha, a grande viagem interior.
Calma, calma. Não estou sugerindo um retrocesso. A
Mariazinha em questão é a volta da sensibilidade e da ternura, nascidas com as
mulheres e perdidas no caminho. O autoconhecimento, essa descoberta individual,
íntima e intransferível, nos tornaria maravilhosas também na prática. Chega de
teoria! Sejamos mulheres excepcionais de fato! Exemplos para nos inspirar não
faltam – vide mulheres abnegadas em prol da humanidade como Zilda Arns.
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