(Foto: autoria desconhecida)
Volta e meia, Mario Quintana falava da amizade, quiçá pela
solidão de poeta ou por muito praticá-la. Um dia a definiu como “o amor que
nunca morre”. Em outro, advertiu: “Não te abras com teu amigo que ele um outro amigo
tem. E o amigo do teu amigo possui amigos também”. É como se o poetinha do
Majestic me alertasse: “[Adriane], cada pessoa pensa como pode”. Assim, hoje vou
olhar para um aspecto da amizade: ela é para sempre?
Lá pelos 18 anos, considerava todo mundo amigo. Talvez
porque me esforçasse para sê-lo. Com o tempo, surgiram as afinidades e uma
parte deles se espalhou. Agora, a temática do companheirismo volta à tona. A
propósito, há quase uma década me deparo com situações em que alguns se
comportam de modo equivocado comigo e fico perdida, sozinha, sem saber como tratar
a questão.
Em 2004, contei a uma amiga sobre o fim do romance com meu
namorado. Dois dias depois, recebi convidados
numa comemoração acadêmica. Chamei também o ex-namorado e a amiga. Pois não é
que ela “deu em cima” dele o tempo todo? Veja. Com o término do namoro, ele poderia
fazer o mesmo (não o fez por respeito a mim, por ser um gentleman). A moça, como amiga, poderia? Sem a desejar mal, escolhi
me afastar dela.
Em 2008, pedi socorro a outra – eu sofria com a morte de
minha mãe. Disse-lhe com todas as letras: “Me ajuda”! Desatenta, proferiu que o
mundo não pararia por minha dor. Em silêncio estarrecedor, olhei-a sem entender
se devia correr dali ou o quê. É óbvio que o mundo não iria parar. Queria
apenas chorar com aquela espécie de irmã. No fundo, não me ouviu. Continuamos nos
relacionando, porém algo havia se quebrado.
Em 2009, um fato inacreditável com outra amiga. Grosserias,
olhares, silêncios, patadas... Sabe a fúria de um coice de cavalo? Deixei “pra
lá” para não afetar indivíduos ao redor. Mas foi punk, viu! Em 2011, recaída da amiga de 2008. Desta vez, revelou
algo que havia lhe confidenciado. No mesmo período, um familiar fez igualzinho.
Aí, decidi reavaliar as parcerias. Entendi que as pessoas, não ficarão, necessariamente,
para sempre na vida da gente.
Nesse contexto, sinto ainda por minhas crônicas mexerem com alguns
amigos. São os prós e contras de se posicionar no mundo. Explico: há camaradas
que discordam da digital literária que escolhi. Não quero perdê-los nem deixar de
escrever. Todavia, diversas criaturinhas, exatamente por sintonizarem com temas
e óticas espinhosos que trato, estão surgindo no caminho. Quem sabe serão companheiros
que me ensinarão renovados saberes?
De tudo isso, é certo: não sei mais lidar com tais amizades.
Preciso reprogramá-las. Nessa história, quem são elas, quem sou eu? O que é ser
amigo? Não venha com a história de que chapa tudo pode. Nã-nã-ni-nã-nãe. Não
pode ser indelicado, dizer tudo de qualquer jeito. Amigo é amoroso, gentil,
conhece nossas dores, precisa estar atento, deve nos puxar para cima e não despenhadeiro
abaixo. Entretanto, Mario Quintana sentencia: “No
fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não
conseguiu levar”.
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