Rousimar Toquinho (Foto: Josh Hedges)
Outro dia vi uma foto que me marcou profundamente. Depois,
passei a matutar sobre o que ela representava. Tratava-se de um lutador, Rousimar
Toquinho, em pose, para dizer o mínimo, agressiva. Parecia um macaco, no
sentido de nossa ancestralidade primata. Não me refiro à beleza, etnia ou a
qualquer aspecto pejorativo que não o quesito simbólico da imagem: aquilo que
já fomos, em outros tempos, quando subíamos em árvores. Será que estamos
querendo retroceder e caminhar de quatro pés?
Nada contra os bichos. A propósito, adoro os animais e ainda
voltarei a ser vegetariana exatamente por amar a bicharada. O que me incomoda e
me faz refletir é essa “impressão” de estarmos desejando retornar ao período
anterior ao progresso fisiológico (inclusive intelectual) empreendido pela raça
humana ao longo dos milhares de anos. É certo: somos muito lerdos. Mas estamos avançando
desde a época em que éramos bem mais peludos. Depois, até nosso cérebro evoluiu
de tamanho, em todos os sentidos.
Explico: Toquinho luta MMA, do inglês, artes marciais
mistas. Apesar de a mídia contemporânea chamar MMA de esporte, não considero como
tal. Veja: no passado, a ignorância fazia parte da humanidade de maneira
avassaladora, então, “tudo bem” machucarmos os outros. Mas agora, em que
avançamos em direitos e deveres e compreendemos, mesmo que em parte, o quanto é
importante o respeito ao próximo, seria um novo circo de horrores com o nome de
octógono?
Esporte está ligado a atividades físicas para recreação,
entretenimento ou mesmo competição, dizem os dicionários. De modo geral,
segundo artigos na Internet, as lutas datam da pré-História em que primatas
fugiam dos predadores e também lutavam para conquistar territórios. Junto aos
egípcios, os enfrentamentos surgiram com fins militares. Na Roma antiga, leões estraçalhavam
os primeiros cristãos para divertimento de um público afoito por sangue. Contudo,
em nossa era, qual o objetivo de cultuarmos práticas animalescas?
Para mim, o pior é a quantidade de espectadores de eventos que
enfatizam a importância do duelo. Galvão Bueno, na estreia do UFC – Em busca de
campeões – na tevê Globo, chegou a fazer uma introdução do telespectador ao
“esporte” – estimulado como nova sensação brasileira. Um reality show que nem sequer edita cenas que não poderiam ser
exibidas – apesar do horário tardio –, de acordo com a Constituição federal. O
repórter Jorge Correa, do portal Uol, descreve a primeira noite do programa: “Tivemos nocautes brutais e fulminantes,
cotoveladas que desacordaram lutadores, muito sangue”.
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