sábado, 7 de abril de 2012

Polígono dos horrores


Rousimar Toquinho (Foto: Josh Hedges)

Outro dia vi uma foto que me marcou profundamente. Depois, passei a matutar sobre o que ela representava. Tratava-se de um lutador, Rousimar Toquinho, em pose, para dizer o mínimo, agressiva. Parecia um macaco, no sentido de nossa ancestralidade primata. Não me refiro à beleza, etnia ou a qualquer aspecto pejorativo que não o quesito simbólico da imagem: aquilo que já fomos, em outros tempos, quando subíamos em árvores. Será que estamos querendo retroceder e caminhar de quatro pés?

Nada contra os bichos. A propósito, adoro os animais e ainda voltarei a ser vegetariana exatamente por amar a bicharada. O que me incomoda e me faz refletir é essa “impressão” de estarmos desejando retornar ao período anterior ao progresso fisiológico (inclusive intelectual) empreendido pela raça humana ao longo dos milhares de anos. É certo: somos muito lerdos. Mas estamos avançando desde a época em que éramos bem mais peludos. Depois, até nosso cérebro evoluiu de tamanho, em todos os sentidos.

Explico: Toquinho luta MMA, do inglês, artes marciais mistas. Apesar de a mídia contemporânea chamar MMA de esporte, não considero como tal. Veja: no passado, a ignorância fazia parte da humanidade de maneira avassaladora, então, “tudo bem” machucarmos os outros. Mas agora, em que avançamos em direitos e deveres e compreendemos, mesmo que em parte, o quanto é importante o respeito ao próximo, seria um novo circo de horrores com o nome de octógono?

Esporte está ligado a atividades físicas para recreação, entretenimento ou mesmo competição, dizem os dicionários. De modo geral, segundo artigos na Internet, as lutas datam da pré-História em que primatas fugiam dos predadores e também lutavam para conquistar territórios. Junto aos egípcios, os enfrentamentos surgiram com fins militares. Na Roma antiga, leões estraçalhavam os primeiros cristãos para divertimento de um público afoito por sangue. Contudo, em nossa era, qual o objetivo de cultuarmos práticas animalescas?

Para mim, o pior é a quantidade de espectadores de eventos que enfatizam a importância do duelo. Galvão Bueno, na estreia do UFC – Em busca de campeões – na tevê Globo, chegou a fazer uma introdução do telespectador ao “esporte” – estimulado como nova sensação brasileira. Um reality show que nem sequer edita cenas que não poderiam ser exibidas – apesar do horário tardio –, de acordo com a Constituição federal. O repórter Jorge Correa, do portal Uol, descreve a primeira noite do programa: “Tivemos nocautes brutais e fulminantes, cotoveladas que desacordaram lutadores, muito sangue”.

É crime atentar contra a vida do outro? Sim, isso se chama (tentativa de) homicídio. Como falar de paz para um filho? Como pensar no fim da violência se ainda fomentamos as dissensões, a discórdia, a animosidade? O duelo é uma dessas instituições bárbaras que temos orgulho de sustentar, assim como a guerra, a corrupção, a hipocrisia. Um dia, certamente, nosso progresso será tanto que sobre esse “esporte” haverá uma vaga lembrança de quando nos equivocávamos. Assim como hoje nos recordamos das atrocidades da Idade Média como algo que insiste em ficar no passado. (Adriane Lorenzon)

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