Entardecer na RS 155 Ijuí-Santo Augusto (Foto: Adriane Lorenzon)
Morrer sim, sofrer não. Nunca pensamos nisso até o dia que
alguém querido esteja em vias de morrer ou acabara de morrer em estado de dor
ou angústia. O sofrimento nessas horas é algo que o volume de maldade de nossa
humanidade não contempla. Não queremos isso para nós mesmos nem para nossos
desafetos. Abrimos mão da convivência do ser amado, mas não queremos vê-lo com
dores, limitações respiratórias, de alimentação, de fala, de lucidez.
A morte dos jovens de Santa Maria (RS) por inalação de
fumaça tóxica despertou a sociedade para a questão. Imagina um pai sentindo-se
impotente por não estar lá para ajudar o filho a se livrar daquele ambiente!
Como é horrível a ideia do sofrimento na hora da morte! Nosso lado mais piedoso
se comove e se coloca no lugar do outro, numa tentativa desesperada de auxiliá-lo,
ainda que com um devotamento que não mais servirá para livrá-lo da escura tragédia.
Veja. Remoer o sufocamento, o desespero, a dor, o sangue dos
grandes desastres como os acidentes de avião é pior que o infortúnio em si.
Muitas vezes, não houve tanto sofrimento assim, e a morte talvez até tenha sido
rápida, já que o desmaio providencial desfalece as forças tirando a consciência
do cenário. A propósito, o remorso sempre acode quem se dá conta na turbulência
de que não aproveitou conversar, cuidar, perdoar, abraçar durante a calmaria.
Morrer sim, sofrer não. Brutal paradoxo que vivencio com a
gata Penélope, uma senhorinha que dá sinal de iniciada a partida de volta ao
céu dos felinos. Não quero vê-la sofrer, e corro para lá e para cá em busca de
alguma solução que minimize a doença que lhe abate. E quando é necessário um
procedimento veterinário mais invasivo, lembro-me da voz italianada de minha
mãe orientando que nessas horas é preciso “endurecer o coraçón” pelo bem maior.
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