sexta-feira, 18 de março de 2011

Hoje não é o meu dia...

(Foto: Adriane Lorenzon in Flores diversas, 2009)

... se eu permitir. Recentemente fui a uma padaria em Porto Alegre e, enquanto aguardava o atendimento, um senhor se desculpava porque derrubara o pacote de pães espalhando-os aos meus pés. Em seguida, justificou-se que já havia levado um tombo naquela manhã. E sentenciou: “Hoje não é o meu dia, nem devia ter saído pra rua”. E eu, lá com os meus botões: calma, isso não é motivo suficiente para acabar com seus planos confinando-se obrigatoriamente em casa.

Esta semana o enredo se repetia, porém, comigo. No aeroporto Salgado Filho da capital gaúcha fiz o habitual check-in. Na bagagem de mão, apenas meu estúdio portátil. Perguntei à atendente se isso geraria algum problema – fora avisada em cima da hora que se tratava de um voo em rota internacional (desse modo, há alguns cuidados extras). A moça, muito atenciosa, disse que não sabia, mas aguardaria uns dez minutos para despachar meus pertences restantes e que eu devia me dirigir à sala de embarque. Se eu não voltasse, teria dado tudo certo.

Em seguida, no aparelho de raios X, avisei o moço nada disposto da Polícia Federal sobre o conteúdo da bolsa. Afinal, eu carregava também um pequeno tripé, o qual, no monitor, poderia parecer outra coisa, algo perigoso, quem sabe? Ele pediu para averiguar e no olhômetro atestou que o objeto passava do tamanho estipulado no protocolo. Logo, não seria possível carregá-lo comigo e, sim, despachá-lo. Sem pestanejar, corri até a moça do check-in que prontamente expediu a encomenda.

Eu estava tranquila, fazendo o que precisava ser feito. Ao retornar à fila, observei que alguém estava, digamos, emperrando o andamento. De repente, leve movimento se fez e uma mocinha passou chorando. Lembro-me de vê-la, ao longe, inutilmente explicando alguma coisa à autoridade. Em geral, os atendentes da Polícia Federal dos aeroportos não são a coisa mais simpática do mundo, ainda que o passageiro esteja em ordem. Nervos mais sensíveis e menos treinados sofrem mesmo. Sei disso por experiência própria de outras situações.

A essa altura do campeonato eu não poderia imaginar que uma sandália me faria “cair” na malha fina da PF. À minha vez, tudo estava certo com o equipamento: tripé despachado, microfone e cabos passaram pelo controle, placa de áudio e notebook, idem. Mas eu, eu não passei.  Aliás, chamei a atenção de todo mundo porque a maquininha geniosa decidiu disparar a sirene.

Pensei em chegar a Brasília vestida com algo que me deixasse elegante. Por isso, escolhi o tal calçado que tem uma fivela e uma esfera de metal. E foi a minha ruína. Snif, snif... Foi nada! Entrei na onda do policial como se fosse brincadeira porque senão meu dia seria um... um excremento? Desci do salto sob o mando do rapazote de farda, claro; usei a sapatilha de tecido que não é tecido, passei pelos raios X novamente, fui até a solitária policial amável que segurava uma espécie de chapinha para varrer meu corpo, abri os braços em cruz – vasculhou-me de frente, de costas, de cabo a rabo. Só não plantei bananeira. Um show. Ao terminar o exame, sussurrei ao seu ouvido na maior gaiatice: Caramba, sete da manhã e vocês me fazendo pagar esse mico!? Ela sorriu. Yes! Já valeu o dia.

Quando voltei, precisava calçar a sandália e arrumar os objetos espalhados na bolsa. Com toda a calma do mundo, olhei para a plateia, afinal, desta vez, eu é que estava engarrafando a fila, e disse sorrindo, meio envergonhada: “Desculpa, aí, gente”! Alguns sorriram como se falassem: tudo bem, está divertido. Na porta da aeronave o comissário me olha como velho conhecido e pergunta: “Não apitou de novo, não, né?”. E ao entrar no avião, a moça de cabelos curtos e salto alto viveu um instante de “fama”. 

Um comentário:

  1. que fartura para um belo dia nao Dri? adorei esta historia,equivale para uns risos num dia cheio de tropeços.bjocas

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