sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Muro das lamentações

(Arte: autoria desconhecida)

Atire a primeira pedra quem nunca reclamou. Eu, tu, ele. O ser humano aprecia sobremaneira. E para que servem lamentos? Nem conseguimos aprender a refletir, a nos tornarmos efetivamente responsáveis pelos direcionamentos de nossa vida! Queixas são saudáveis se passarem pela categoria de reivindicar a melhoria de algo: salário, condição de trabalho, moradia, saúde, educação. Note: reclamar por reclamar é discurso sem força e ressonância...

Na faculdade, combinávamos na sala que buscaríamos junto à direção ou a algum professor, benefícios para o corpo discente. Tudo ia muito bem, na maior empolgação. Quando nosso interlocutor chegava, ficava a Adriane procurando qualquer apoio dos colegas. Na hora de confirmarem o meu “Né, gente?”, o silêncio era ensurdecedor e derrubava qualquer possibilidade de negociação, e tudo ficava na mesma. Você estaria de qual lado, caro leitor?

Há quem suplique por uma doencinha, um mal-estar. Quer a todo custo uma enfermidade para que o mundo olhe para ele. É o chamado hipocondríaco. Um indivíduo que age assim chama a atenção para si, segundo seus desejos mais rasos ou profundos. Ocorre que, dessa forma, afasta pessoas que poderiam ajudá-lo. Entretanto, quem disse que o dito cujo quer se curar dessa doença horrível que padece? Não é exatamente ela que o faz sobreviver?

Nos dias de temperaturas congelantes, revelo meu lado insuportável. No Sul do país falo da temperatura, que não consigo me aquecer para trabalhar, que estou encarangada, que detesto o frio, e ironizo a graça de nascer neste Planeta... No verão, no Sul e no Norte, nos dias de 36 graus, com sensação térmica de 42, e o mormaço deixando essa vivente de mau humor, viro, aí, sim, um murmúrio só: calor, suor, rosto melado, tempo abafado...

Nesse sentido, torno-me igualzinha às criaturas que resmungam por outras coisas. De resto, vou administrando, já não rosno tanto, nem de coentro na comida. Pior é ser convidado para um almocinho especial por alguém que adora esse tempero. De longe você sente o cheiro da planta que parece salsa mas não é, e entende que não poderá degustar o prato com o mesmo prazer. Aí, não respira e engole rápido. Botando na balança, o amor do gesto amigo vale mais.

Falando em refeição, há quem reclame de barriga cheia. Se a mãe prepara o alimento com o que tem em casa: “De novo”? Se é de acordo com o paladar do filho, tem que ser composto de batata frita, bife, arroz e, talvez, uma rodela de tomate. Se tem polenta no cardápio, isso é gosto menor. Cá entre nós, desconheço povo mais feliz que o do Norte do país: pode comer açaí com farinha todo dia e a iguaria é sempre bem-vinda e festejada.

Difícil conhecer alguém que esteja contente com o que já tem: a saúde, a família, a cidade em que vive, o ambiente de trabalho, as roupas do armário. Chico Xavier, um dos meus maiores inspiradores, explica que a gente está onde devia estar. Enquanto nos orienta, sugere que não nos acomodemos num platô confortável, porém, aceitemos o que temos para hoje com mais gratidão e menos rabugice. Tenha a santa paciência: pessoas reclamentas são chatas demais. (Adriane Lorenzon)

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