(Arte: autoria desconhecida)
Atire a primeira pedra quem nunca reclamou. Eu, tu, ele. O
ser humano aprecia sobremaneira. E para que servem lamentos? Nem conseguimos aprender
a refletir, a nos tornarmos efetivamente responsáveis pelos direcionamentos de
nossa vida! Queixas são saudáveis se passarem pela categoria de reivindicar a melhoria
de algo: salário, condição de trabalho, moradia, saúde, educação. Note: reclamar
por reclamar é discurso sem força e ressonância...
Na faculdade, combinávamos na sala que buscaríamos junto à
direção ou a algum professor, benefícios para o corpo discente. Tudo ia muito
bem, na maior empolgação. Quando nosso interlocutor chegava, ficava a Adriane procurando
qualquer apoio dos colegas. Na hora de confirmarem o meu “Né, gente?”, o
silêncio era ensurdecedor e derrubava qualquer possibilidade de negociação, e
tudo ficava na mesma. Você estaria de qual lado, caro leitor?
Há quem suplique por uma doencinha, um mal-estar. Quer a
todo custo uma enfermidade para que o mundo olhe para ele. É o chamado
hipocondríaco. Um indivíduo que age assim chama a atenção para si, segundo seus
desejos mais rasos ou profundos. Ocorre que, dessa forma, afasta pessoas que
poderiam ajudá-lo. Entretanto, quem disse que o dito cujo quer se curar dessa
doença horrível que padece? Não é exatamente ela que o faz sobreviver?
Nos dias de temperaturas congelantes, revelo meu lado insuportável.
No Sul do país falo da temperatura, que não consigo me aquecer para trabalhar,
que estou encarangada, que detesto o frio, e ironizo a graça de nascer neste
Planeta... No verão, no Sul e no Norte, nos dias de 36 graus, com sensação
térmica de 42, e o mormaço deixando essa vivente de mau humor, viro, aí, sim,
um murmúrio só: calor, suor, rosto melado, tempo abafado...
Nesse sentido, torno-me igualzinha às criaturas que resmungam
por outras coisas. De resto, vou administrando, já não rosno tanto, nem de
coentro na comida. Pior é ser convidado para um almocinho especial por alguém que
adora esse tempero. De longe você sente o cheiro da planta que parece salsa mas
não é, e entende que não poderá degustar o prato com o mesmo prazer. Aí, não
respira e engole rápido. Botando na balança, o amor do gesto amigo vale mais.
Falando em refeição, há quem reclame de barriga cheia. Se a
mãe prepara o alimento com o que tem em casa: “De novo”? Se é de acordo com o
paladar do filho, tem que ser composto de batata frita, bife, arroz e, talvez,
uma rodela de tomate. Se tem polenta no cardápio, isso é gosto menor. Cá entre
nós, desconheço povo mais feliz que o do Norte do país: pode comer açaí com
farinha todo dia e a iguaria é sempre bem-vinda e festejada.
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