Estátua de Tiradentes no centro de BH (Foto: Letícia Leite)
Em nossa cultura, ninguém gosta de ser ridículo ou ridicularizado.
Percebeu isso? Ser alvo de zombaria é algo que não digerimos bem porque
evidencia uma falha, um quê de desconcertante em nós – mostra a falibilidade da
espécie. E ninguém almeja o fracasso, certo? Mas há uma frase que gosto muito, talvez
de autoria de Confúcio, e a ideia principal é: o homem só evolui quando aprende
a rir do seu próprio ridículo.
Coreanos, japoneses, chineses, taiwaneses, por exemplo, não têm
medo de serem vistos como ridículos, de gostarem de coisas extravagantes,
diferenciando-se dos ocidentais. Nas ruas brasileiras vendem desde utensílios
relaxantes de cabeça até gaiolas cantantes de plástico. Tiram fotos com câmeras
de última geração e passeiam por pontos turísticos com a curiosidade de uma
criança. Visite as Cataratas do Iguaçu (PR) e saberá do que falo.
Dia desses, o
músico cearense David Duarte postou na rede: “Ironia ou não, o ridículo quase
sempre tem algo de muito original. Deve ser por esta razão que o confundem, em
termos de arte, com ousadia”. É ou não é? Quando estou vestida de modo,
digamos, peculiar, ouço elogios, principalmente de mulheres. Apostaria toda a
minha fortuna [sic] que elas adoram o
visual, de verdade; porém, muito mais porque desejariam vestir-se assim e não
têm coragem.
Nesse
sentido, paguei um supermico em Belo Horizonte (MG), num 19 de março, dia de
São José. Daria uma palestra no interior do estado e saía da cidade, de carro e
acompanhada de uma equipe, rumo à BR 040. A recém-apresentada Letícia contava
que os mineiros dizem que em março, no dia 19, sempre chove bastante, a conhecida
chuva das goiabas. Ouvindo isso e distraída com as novidades do trajeto, concluí
que Minas teria um santo padroeiro, o São José.
De
repente, entre a Brasil e a Afonso Pena, vejo uma estátua gigantesca e solto: “Olha,
é o São José”? Todos se esforçaram para não rir de mim. Afinal, acabavam de me conhecer
e eu era a convidada, impunha certo respeito. Então, discretamente, mas louca
para cair na gargalhada, Letícia me socorre: “Não, Adriane. É o Tiradentes
mesmo”. Até hoje, ao passar pelo mártir da Inconfidência Mineira em Belô,
lembro-me da gafe e rio, como se escondesse um segredo.
Em outra feita, marquei
depilação da virilha e ao me dirigir à sala reservada, a depiladora disse:
“Fica à vontade que eu já volto”. Para mim, ficar à vontade nessas ocasiões significa
tirar a calcinha para facilitar o serviço e evitar o lambuzo de cera na lingerie. De repente, ela volta e me vê
deitada, toda tranquila, sem a roupa de baixo. “Pode botar a calcinha”,
exclamou. Na cara da moça havia repreensão, como se me censurasse por tanta
ousadia.
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