Irmã Dulce, exemplo de vida (Foto: autoria desconhecida)
Para mim, o fim do mundo é mais
embaixo, num buraquinho escondido, cheio de máscaras e disfarces: maledicência,
desrespeito, arrogância, relações afetivas doentes, egoísmo, julgamentos, hipocrisia...
Entretanto, já que o povo Maia resolveu fazer uns cálculos, que têm certo
sentido, a gente acaba por parar um instante e se perguntar: seria mesmo o fim?
Se sim, vai ser um baita susto para muita gente. Se não, tudo continuará como
dantes. Será?
O que mais me instiga a
refletir sobre o tema apocalíptico é imaginar que se fosse agora a minha
partida, eu não teria feito praticamente nada em nome da humanidade. Está bem, em
prol do outro, aqui do lado, já bastaria: um tanto de caridade, a mesa farta compartilhada,
essas coisas que a gente imagina “conseguir” fazer quando ganhar a Megassena da
Virada. Quase 200 milhões de reais me auxiliariam a desapegar, como se diz por
aí, fácil, fácil...
Nascida em família pobre,
materialmente falando, meu destino estaria desenhado: estudar até no máximo o
ensino médio. E precisaria agradecer porque a cidade em que vivia dispunha do
curso de magistério para garantir a brilhante carreira profissional feminina –
e de alguns homens mais ousados. Mas eu fui além, pelo meu esforço, e muito
antes, pelo incentivo de meus pais que sempre estimularam os filhos a estudar e
buscar o aperfeiçoamento.
A propósito, eu mesma paguei
dois cursos superiores e consegui uma vaga no mestrado de uma instituição
pública. Só por isso, eu deveria devolver à sociedade um pouco daquilo que
recebi, e procuro fazer, embora nunca seja suficiente. Estou sempre em dívida.
Lembro-me de Chico Xavier reconhecendo que não havia realizado uma décima parte
do que deveria fazer para ajudar a humanidade: melhorar o seu redor, a dor
alheia, a fome do próximo.
Um incômodo enche os olhos ao
se ouvir criaturas loucas de medo do fim do mundo. Tem gente que preparou um bunker para estocar água e comida e se
proteger durante a possibilidade de três dias de escuridão e revolta da
natureza. Imagino que quem viveu passeando e resmungando até agora, sem noção
de que tudo é mais além, deva mesmo estar preocupado. “Viver é muito perigoso”,
dizia Guimarães Rosa. Esse mineiro sabia das coisas...
Paulinho Moska canta: “O que você
faria se só te restasse um dia”? Vai dizer que ia deixar de pagar as contas,
beber até cair, empanturrar-se de guloseimas, copular irresponsavelmente, só
porque o tempo de protelar mais uma vez estaria se findando? Nossa, você conseguiria
ser assim tão previsível?! O mundo vai se acabar em algum momento, no âmbito da
matéria, para todos nós. Deixe a ficção
científica para os diretores e roteiristas de cinema; eles são ótimos nisso! Sugestão:
pegue uma enxada e cuide de seu quintal! Há flores querendo desabrochar!
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