sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fim do mundo


Irmã Dulce, exemplo de vida (Foto: autoria desconhecida)

Para mim, o fim do mundo é mais embaixo, num buraquinho escondido, cheio de máscaras e disfarces: maledicência, desrespeito, arrogância, relações afetivas doentes, egoísmo, julgamentos, hipocrisia... Entretanto, já que o povo Maia resolveu fazer uns cálculos, que têm certo sentido, a gente acaba por parar um instante e se perguntar: seria mesmo o fim? Se sim, vai ser um baita susto para muita gente. Se não, tudo continuará como dantes. Será?

O que mais me instiga a refletir sobre o tema apocalíptico é imaginar que se fosse agora a minha partida, eu não teria feito praticamente nada em nome da humanidade. Está bem, em prol do outro, aqui do lado, já bastaria: um tanto de caridade, a mesa farta compartilhada, essas coisas que a gente imagina “conseguir” fazer quando ganhar a Megassena da Virada. Quase 200 milhões de reais me auxiliariam a desapegar, como se diz por aí, fácil, fácil...

Nascida em família pobre, materialmente falando, meu destino estaria desenhado: estudar até no máximo o ensino médio. E precisaria agradecer porque a cidade em que vivia dispunha do curso de magistério para garantir a brilhante carreira profissional feminina – e de alguns homens mais ousados. Mas eu fui além, pelo meu esforço, e muito antes, pelo incentivo de meus pais que sempre estimularam os filhos a estudar e buscar o aperfeiçoamento.

A propósito, eu mesma paguei dois cursos superiores e consegui uma vaga no mestrado de uma instituição pública. Só por isso, eu deveria devolver à sociedade um pouco daquilo que recebi, e procuro fazer, embora nunca seja suficiente. Estou sempre em dívida. Lembro-me de Chico Xavier reconhecendo que não havia realizado uma décima parte do que deveria fazer para ajudar a humanidade: melhorar o seu redor, a dor alheia, a fome do próximo.

Um incômodo enche os olhos ao se ouvir criaturas loucas de medo do fim do mundo. Tem gente que preparou um bunker para estocar água e comida e se proteger durante a possibilidade de três dias de escuridão e revolta da natureza. Imagino que quem viveu passeando e resmungando até agora, sem noção de que tudo é mais além, deva mesmo estar preocupado. “Viver é muito perigoso”, dizia Guimarães Rosa. Esse mineiro sabia das coisas...

Paulinho Moska canta: “O que você faria se só te restasse um dia”? Vai dizer que ia deixar de pagar as contas, beber até cair, empanturrar-se de guloseimas, copular irresponsavelmente, só porque o tempo de protelar mais uma vez estaria se findando? Nossa, você conseguiria ser assim tão previsível?! O mundo vai se acabar em algum momento, no âmbito da matéria, para todos nós. Deixe a ficção científica para os diretores e roteiristas de cinema; eles são ótimos nisso! Sugestão: pegue uma enxada e cuide de seu quintal! Há flores querendo desabrochar!

Desse modo, a partir de leituras e convicções, acredito que não será agora a derradeira incursão humana na bolinha azul do universo. Para mim, é muito mais assustador pensar que o meu fim chega todas as vezes que não consigo ser mais amorosa, paciente e compreensiva com meu próximo. Isso, sim, me mata, me aniquila! Ando com uma pressa urgentíssima de fazer algo mais, de oferecer daquilo que já recebi tanto, de ajudar a tornar, agora, o mundo um pouco mais alegre, leve, inclusivo, amoroso e interessante de se viver. Bora lá comigo? (Adriane Lorenzon)

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