(Arte: autoria desconhecida)
Ainda pequenina dizia que se
um dia me casasse cada um moraria no seu apartamento ou, pelo menos, ele teria
o próprio quarto e, eu, o meu. Ah, quando batesse a saudade... Também entendia
que a cerimônia seria apenas um encontro a dois. Vestido branco? Nem pensar! Desse
modo, desde aquela época contrario os padrões sociais da maioria das pessoas
com quem convivia e convivo. Mas, afinal, para que servem os procedimentos do rito?
Ao concluir pedagogia, em
1995, sendo escolhida oradora da turma, achei justo comentar a decisão de não
usar, na colação de grau, a tão reverenciada capa preta do Batman. Disseram-me
que não havia problema. No dia marcado, cheguei de vestido vermelho, mostrando
as pernas. Os cabelos curtíssimos, raspados em lâmina dois, há tempos eram
motivo suficiente de espanto. Se era para ser especial, que fosse de um jeito
que me fizesse sentido.
Qual não foi a surpresa de
uma das colegas que, olhando-me de cima a baixo com reprovação, bradou:
“Francamente, Adriane, não esperava isso de você”. Eu, mais rebelde e irônica
do que em qualquer fase da vida, perguntei do que ela estava falando. Recebi de
volta a carranca e o silêncio, linguagem e metodologia mais apropriadas para
situações como aquela. Portar-se e vestir-se de modo diferente do padronizado
exige, além de estilo, coragem e determinação.
Já durante o mestrado, ouvi do
amigo Testa, professor experiente e tendo passado por diversos rituais
acadêmicos, que eu devia me ocupar, no dia da defesa da dissertação, de mostrar
aquilo que eu havia estudado. Disse-me ainda, que ninguém saberia mais do que
eu naquele instante, porque, pensando bem, quem havia realizado as pesquisas,
leituras e escritas? O dia D, segundo ele, era só um protocolo, nada mais, não
devia supervalorizá-lo.
É nas comemorações de fim de
ano que pessoas ficam tristes, devido, em especial, ao hábito causador de frisson em famílias e grupamentos. Todo
mundo tem a obrigação de ter sido próspero no período que passou e entusiasmado
quanto ao novo. Sem o ritual, muita gente nem perceberia os fracassos gigantescos
e as vitórias alcançadas. Festas, correrias, presentes, visitas, ausências
motivam sentimentos a serem mexidos, averiguados, entendidos.
Claro que algumas normas
devem ser seguidas para um melhor convívio. Isso faz parte da etiqueta social. Aprendi
como motorista que o bom senso, muitas vezes, é o melhor caminho; ao procurar
uma vaga, por exemplo, se não há proibição, eu estaciono. Requisito fundamental,
porém, é conhecer os códigos e símbolos de trânsito e observar ao redor – pode
ter uma placa logo ali. No caso da formatura, a toga não era obrigatória.
Simples assim.
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