(Charge: Bier)
Ao publicar esta crônica, sinto que estou cutucando a onça
com vara curtíssima... E se descobríssemos um lugar que comemorasse,
anualmente, infortúnios tipo o massacre de minorias nos campos de concentração
alemães, ou chacinas como a dos presos do Carandiru em São Paulo? As pessoas,
de modo geral, não teriam passado do nível básico acerca do porquê daquilo. Lá,
estaria a mídia, favoravelmente cobrindo.
Isso foi só uma reflexão inicial.
Corta. Perto de nós, no Rio Grande do Sul (e por onde mais se espalha a
gauchada), não são festejadas as mortes citadas. Contudo, celebra-se a Revolução
Farroupilha (1835-1845) e, consequentemente, as mortes, desgraças, torturas,
conchavos daquele período. Quem participa da festa setembrina sabe que o que
menos se quer nos acampamentos farroupilhas é estudo, pesquisa e meditação.
Não sou contra que as pessoas se divirtam, entende? Aliás, a
alegria é sempre bem-vinda. Que comam o prato preferido, recitem poemas, vistam
a bela pilcha, tomem o chimarrão. Porém, compreendendo o que isso representa. Até
imagino um sábio historiador contando causos nas rodas de acordeona, e os peões
e prendas indecisos entre tirar o lenço dos olhos e seguir abraçados às ilusões
da versão oficial dos fatos.
Para mim, é angustiante a falta de consciência e
questionamento quase que decretada sobre as vitórias e derrotas ocorridas nos
pagos do Sul do país. Lacuna essa reforçada por escolas, poderes públicos,
formadores de opinião... Destaca-se a bravura do povo, as epopeias, as
conquistas, mas pouco se declama criticamente a respeito dos insucessos e
equívocos, como a “trairagem” contra os bravos Lanceiros Negros.