sexta-feira, 8 de abril de 2011

Faixas de... segurança?

(Ilustração: revista Nosso Amiguinho)

Em abril de 1997, foi lançada em Brasília uma campanha educativa para orientar transeuntes e motoristas quanto ao uso das faixas de pedestre. Durante meses, na televisão local, o menino-personagem levantava a mão ao entrar na faixa, porém, só cruzava por ela depois que os primeiros carros reduzissem a velocidade e parassem. Logo, logo os moradores aderiram à ideia e passaram a cumprir a regra.


Até hoje, 14 anos depois, de modo geral, a coisa funciona mesmo, com alguma publicidade eventual para reforçar o imaginário coletivo. É só parar no início da pintura listrada, esticar a mão e o motorista ao longe já sabe a senha. Exemplo: um ciclista não deve passar pedalando; antes, desce da magrela, dá o sinal e atravessa caminhando. Nesse sentido, poucas são as cidades que realmente se educaram para um trânsito seguro.

Ijuí, Rio Grande do Sul, orgulha-se de ser uma das primeiras cidades do país a respeitar a faixa. Entretanto, euzinha, fui testemunha “incômoda” da história. Como motorista, observei, inúmeras vezes, pedestres tendo a preferência, de forma ininterrupta. Alguns davam-se ao luxo de passear, ou melhor, desfilar pela zebra do asfalto. E os motoristas ficavam esperando, esperando, indefinidamente. Contudo, um semáforo para pedestres aguarda desde 2010 para ser ligado. Quando rolar, todo mundo terá sua vez. Moleza, não?

Em Porto Alegre a situação é complicada. Cidade com trânsito caótico e muita poluição sonora provocada por buzinas. Lá, acompanhei a tentativa de instalação de programa educativo para motoristas e pedestres. Não funcionou, ainda. Aliás, ao dirigir naquelas ruas e avenidas, sofro horrores. Fico sempre na dúvida entre cuidar da pessoa na faixa e deixar o motorista de trás bater no meu carro. Tal cidadão [hein?] não se educou para o trânsito defensivo, ou seja, a campanha existe, mas educação que é bom... exige tempo, investimento, dedicação.

(Foto: Cynthia Vanzella, Porto Alegre)

Conheço cidades em que os habitantes não ousam desafiar motoristas – aguardam os veículos passar e depois atravessam tranquilos. Em outras, cruzam correndo na primeira oportunidade. Um risco! E há localidades sem sinalização, logo, qualquer lugar serve para atravessar. Nos municípios menores, descobri pedestres no início das listras, esperando para passar. Quando o motorista para, eles fazem sinal para o carro seguir: é como se dissessem, não precisava ter parado, só estou curtindo o movimento.

E tem mais. Viajando de carro pelo país, recentemente, vi faixas de segurança no meio da estrada. Como assim? Ninguém para ali. Ninguém. Vi isso no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Não há quebra-mola, escola por perto, fluxo intenso de pessoas, nem mesmo uma sinaleira para justificar ou auxiliar. As placas indicam, geralmente, 80 km/h, porém a maioria dos veículos ultrapassa o permitido. A faixa é só para ilustrar a pista, compor o visual.

Ora, cada lugar tem uma característica específica, principalmente pelos aspectos culturais. É preciso analisá-los para criar uma metodologia eficaz de educação para o trânsito. Quem são os motoristas, como se comportam, o que pensam, como administram conflitos, como tomam decisões? O trânsito é parecido com a vida, há vias preferenciais, duplas, sem saída, de mão única. Se na sinaleira a criatura se comporta buzinando ao motorista da frente só porque o carro deste não vai de zero a 100 km/h em quatro segundos, nos outros departamentos da vida, muito provavelmente, irá cometer desrespeitos vários.

(Criação: desconhecida / The Simpsons)

Educação é para todos. Certo? Então, não seria sem tempo a criação de uma iniciativa permanente para formar habitantes, do campo e da cidade, pedestres mirins e motoristas neófitos. Mas saliento: campanha e-du-ca-ti-va. A proposta deverá auxiliar aqueles que ainda não sabem viver em comunidade a se inserirem num mundo mais civilizado. E renovar, a quem se diz “educado”, os lembretes necessários de paciência e tolerância. Fácil, fácil.

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