(Arte: autoria "criativa" desconhecida)
Como resolver o impasse já que o vivente está exercendo a
liberdade dentro da própria casa? É um direito dele. Até chamar especialistas
para analisar o prédio, demora... Outra opção é resolver isso conversando. Entretanto,
esse cidadão deverá ter boa vontade para sair de casa, à noite, e achar um
lugar que não passe ninguém para fumar porque, mesmo no pátio do prédio, estará
perturbando, pois a fumaça e o cheiro são safos, percorrem caminhos que ninguém
vê, mas estão lá, adentrando e desrespeitando espaços particulares.
Lembro-me de um caso na Inglaterra, anos atrás, de uma
mulher que ganhou na justiça uma ação que impedia o vizinho fumante de fumar
num determinado espaço do terreno dele. Técnicos do tribunal realizaram
cálculos para saber até que ponto exatamente o vizinho podia fumar no próprio
lote, pois se ultrapassasse tal indicativo a fumaça já invadiria a área da
moradora. Bem-humorada, imaginei experts
fazendo medições diurnas e noturnas nas quatro estações do ano. Solta a fumaça,
segura, dá uma tragada e solta com força, agora de leve...
Outro dia fui a uma reunião num pequeno restaurante do
bairro em que moro. Estávamos confabulando sobre a temática em questão e, de
repente, o nariz felino apontou o alto e descobriu uma fumacinha incômoda vindo
para mim. Quando olhei àquela direção – no fundo eu sempre quero estar enganada,
porém, trata-se de um cheiro que não tem como não percebê-lo quando chega ao
olfato – olhei o garçom desavisado, fumando, e lhe disse: “A fumaça”... E ele,
gentilmente, saindo dali: “Sério”?
A maioria dos fumantes não percebe que incomoda. Nesse
sentido, falta muita noção de espaço! Para entender melhor, observemos outra
área. Vários motoristas se perdem no quesito lateralidade, confundem direita e
esquerda e entram para qualquer lado sem avisar. Daí surgiu a direção
defensiva. Quem está no trânsito, prevendo uma barbeirada imediata do outro, se
defende e cuida dos demais. Afinal, se o barbeiro soubesse das regras de
convivência mínimas não se esqueceria: as ruas são como a vida, há mais gente ao
redor.
Ainda no tráfego das vias, já senti a fumaça vinda do carro
da frente. A pessoa fuma no carro, no território dela e causa estragos no meu
terreno particular. Isso é sacanagem! [Não o seria, se eu estivesse, por
exemplo, visitando um amigo fumante. No território dele, eu é que devo tolerar.]
Contudo, pior é você estar dirigindo e o indivíduo jogar a guimba com aquele
impulso característico de um peteleco gerado pelos dedos polegar e pai de
todos. E o cigarro vai lá entupir bueiros e bocas de lobo junto a folhas de
árvores, garrafas pet e sacolas plásticas – fazendo da chuva um momento de
terror.
Uma das áreas científicas que sou apaixonada é a
antropologia – estuda as relações entre o eu e o outro. Ajuda-nos a entender o
ser humano nos campos biológico, social, cultural, histórico, psicológico,
religioso. Estudando-a, sabemos melhor porque pessoas agem de certa forma,
vivem como vivem, compreendem como compreendem. Somos seres sociais e
precisamos de uma convivência pacífica, apesar da diversidade – não é mudar por
causa dos caprichos do outro, é mudar
em favor de nós. Isso gera uma profunda
transformação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário