(Foto: autoria desconhecida)
Detesto bater papo sobre filmes a que não assisti. Por mim,
estaria tudo certo, pois, diga-se de passagem, adoro escutar histórias, apesar
de saber o final antecipadamente. A confusão é: nem todo mundo lida bem com o
não saber do outro, o não conhecer, o não ter assistido “àquele” clássico. Daí,
ouço: “Você não viu tal filme”? E eu,
calmamente: “Não”. Lá no fundo pensava: “Qual o problema? Vou morrer sem ter lido
todos os livros, assistido a shows
como da Legião Urbana ou a películas maravilhosas”!
Sou tranquila com o meu tanto de não saber. “Calmo, mas não
conformado”, como diria Chico Buarque. Tenho muito a desbravar nesse mundão que
uma vida apenas vai ser pouca para vasta experiência. Ledo engano achar que se
consegue fazer todas as descobertas numa só. É claro, posso ampliar as
possibilidades e buscar o conhecimento a toda hora, a cada minuto. Adoro
estudar. Por exemplo, há épocas em que aprecio Guimarães Rosa; em outras,
prefiro filosofia. Nem por isso me considero a poderosa da literatura, das
letras.
Pessoas também não reconhecem os saberes das outras.
Professores são campeões em desvalorizar o que crianças e adolescentes, em
especial, têm de mais rico: as próprias visões de mundo. Lembro-me de um no
curso de jornalismo que nos dias de prova, esfregando as mãos, falava: “Vou
ferrar vocês”! Coitado! Devia ser uma pessoa triste e iludida. Na outra ponta
da história, lembremo-nos de Paulo Freire – educador ousado, declarava respeito
ao saber do educando.
Minha mãe Maria sabia o quanto não sabia e, assim, era
sábia. Aos 58 anos aprendeu a andar de bicicleta. E ficava lá motivando as
amigas mais jovens a andar de bike. Mais
tarde, começou a dirigir e tirou carteira. Fomos juntas comprar o primeiro
carro dela. E fechando com chave de ouro, arrasou na animação. Como frequentou
a escola até a terceira série primária, ficou sem estudar formalmente a vida
toda. Pois não é que concluiu o primeiro grau depois dos 60? Se tinha
dificuldades? Claro que sim, como eu e você.
Criaturas presunçosas, inconscientes dessa condição, tratam
de modo indelicado quem não vivenciou situações como elas. Então, quando
descobrem um serzinho quase indefeso porque não sabe algo, se lançam como
jaguares esfomeados. Geralmente, agem desse modo figuras que, por exemplo,
conhecem diversos países, têm títulos acadêmicos, são poliglotas ou entendem de
vinhos, os sommeliers. Note que há
uma diferença enorme quando pessoas simples sabem muito. Estas, contam
histórias interessantes e tudo flui tão natural que a arrogância passa longe.
Não saber não é a questão-chave. Agora, não querer saber... Há
uma frase nos alertando há tempos: “O pior ignorante é o que não quer saber”. É
ou não é? É. Conheço gente teimosa que insiste numa opinião para ver o circo
pegar fogo e ter o nome na calçada da fama – dos chatos, claro. E os adolescentes?
Pensam saber mais que os pais em experiência de vida e os tratam com violência,
desconsideração. Sentem vergonha deles. Podem dominar a tecnologia, mas na
longa estrada...
É atribuída aos Sete Sábios gregos, que teriam vivido entre
650 e 550 a.C, a célebre frase “Conhece-te a ti mesmo”. Ao ser apontado como o
maior sábio da Grécia, justamente por esses caras, Sócrates reconhece o tamanho
de sua ignorância. Ciente disso, afirma, entretanto, ser estimulado pelo não
saber para desvendar o desconhecido. E dizia: “Sei que nada sei”. Logo,
concluímos: não saber é terreno fértil para mentes ávidas em busca de
conhecimento, renovação de ideias e ideais. Afinal, não somos prontos e
conclusos.
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