(Foto: autoria desconhecida)
O cantor e compositor paraibano
Chico César escreveu, alguns anos atrás, canção com o mesmo título desta
crônica, mas colocou vírgula depois de “cabelos” – queria chamar a atenção de
um público não negro. Ele abordava uma verdade: a discriminação com o crespo da
afrodescendência. Aqui, de propósito, renunciei à vírgula porque a intenção é diversa:
tratar de preconceito, porém, com o prateado de minhas madeixas. Enfim, resolvi
assumir o grisalho. Chega de tinturas, esperas em salão, testa manchada, lambuzos
em casa...
De início, o corante
servia para mudar a cor, dar um tchan
no estilo pessoal. Como uso cortes curtos ou curtíssimos há duas décadas,
ninguém os percebia. De uns anos para cá, se me demorava em retocá-los, notava
que a situação estava, digamos assim, junta e misturada. Acho graça e me
divirto muito com o olhar surpreso de quem ainda não sabe dos meus fios
descoloridos pela vida. Alguns brincam: “Ah, é como se você tivesse feito
luzes”.
No entanto, atualmente, a
coisa está séria. Tem até mechinha a William Bonner. O motivo da existência tão
precoce desse branquicelismo todo,
desde os 18 anos, pode ser predisposição genética. Como de uns anos para cá
passei por situações estressantes, cogita-se, portanto, outro fator. Mas... adianta
saber? Nada vai alterar. A medicina confirma a falta de soluções na área – isso
está claro e é tranquilo para mim. Já para o meu semelhante, não. Aí a coisa
complica – somos seres sociais, está lembrado?
Ao falar na possibilidade
de deixar à mostra a melena assanhada, tenho ouvido de cabeleireiros e amigas que
sou muito jovem para tal intento. Modéstia à parte, apresento mais ares de
moleca do que minhas quatro décadas novembrinas. Claro, fui aceitando a imposição
descarada da sociedade de que aparentaria um envelhecimento antecipado e pintava
uma vez mais. Observe. Cabeleira curta precisa ser cortada a cada 15 ou 20 dias.
Senão, dá uma impressão de desleixo – e se o corte ocorre nessa periodicidade,
a tintura vai-se embora.
Poucas pessoas ao meu
redor vivem situação parecida – fico, novamente, deslocada no mundo. Aquele
lance do pertencimento... Então, matutei: “Vou para a Internet ver o que a
mulherada anda falando. Impossível que só euzinha
esteja pensando em assumir os brancos”. Delícia nos sentirmos acompanhados! Não
deu outra. Lá estavam depoimentos de mulheres com a mesma dúvida cruel. Senti-me
acolhida e encorajada. Viva a web!
Caro leitor, você acha
que homossexuais e negros são os únicos discriminados? Qual nada! Embora em
grau e metodologia distintos, mulheres brancas, de classe socioeconômica média
ou elevada, também sofrem com o mal da ignorância de outrem. Por que seria
diferente comigo? Uma “obrigação” nos impele a escondermos a velhice. Ora, quem
disse que envelhecer é feio, errado, fora de moda e demais expressões que nos
ensinaram para reprimir vontades, ideias e sonhos frente à vida? É a ditadura
da aparência jovem em pleno vigor! Quem consegue se esconder por tanto tempo?
Dercy Gonçalves? Glória Maria?
Nunca tive problemas com
idade. Contudo, agora, sou nova pessoa e não quero pintar os cabelos. Ponto. A
não ser que profissionalmente se faça necessário. Curtir essa fase, sim. Imensamente!
É o meu envelhecer. Sempre disse: “Ao chegar aos 60, serei linda”. Olha só,
faltam-me apenas duas dezenas de anos. A repórter Denise Brito, do jornal A
Folha de São Paulo, entrevistou mulheres como a professora de inglês, Mila Rey,
53, que contesta a tirania da beleza: “Abdicar
de uma aparência que se convencionou ser rejuvenescedora pode ser considerado
até agressivo aos olhos de quem acha difícil lidar com os sinais do próprio
envelhecimento”.
Isso ai, feliz de quem está vivo para envelhecer!! Vamos chegar lá!! :)
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