sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O que me ajuda a olhar o mundo


(Cânion Itaimbezinho RS/SC - Foto: Murilo Ribeiro)

Os anos passam e a gente vai aprendendo a aprender. Tem coisas que nos ajudam a viver e entender o mundo com dinamismo, precisão, cuidado. São livros, amigos, religiões e filosofias, lugares, filmes, poemas, experiências, amores, canções, familiares... Tudo tecendo a teia que amplia o horizonte de nossa mente e alma. Como trapezistas, seguimos o fio que direciona o passo, a dança, o equilíbrio. É lindo e motivador pensar que já somos menos egoístas, hipócritas, impacientes, intolerantes. Agora restam poucas classes para vencermos, finalmente, o primeiro degrau daquilo que chamamos evolução.

A sétima arte, o cinema, me ensinou a ser um tiquinho mais sensível. Isso com todos os filmes latino-americanos que vi: mexicanos, brasileiros, argentinos – além dos indianos e japoneses. Não deveria citar uma ou duas películas, pois me esqueceria de outras. Porém, as de Kurosawa, Iñarritu, Almodóvar e Campanella são espetaculares. Inesquecível é Como água para chocolate de Alfonso Arau – bela trilha sonora, eu me lembro bem. Cheguei a comprar o CD e o livro que traz receitas culinárias da autora Laura Esquivel.

Falando em literatura, existem obras que nos pegam pela mão como um carinhoso professor nos socorrendo na complicada lição. Há livros incomparáveis, vide Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa. Esse é hors-concours! Escreve o velho Rosa: “Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo”; “Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa”; “As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas”.

Contudo, o que seria de mim sem os amigos? Uns se dispersaram; outros, permaneceram. Aprendi e aprendo tanto com eles. As matracas ligadas e muita conversa boa rolando. Um sonzinho de qualidade superior ao fundo ou o silêncio. O barato é ter um ombro, uma solidariedade em alto grau de dedicação. “Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim”, me lembra a amiga Marisa, recordando o mestre Renato Russo. Aliás, os versos do Trovador Solitário são uma escola completa.

Alguns lugares parecem nos levar a um universo paralelo. Paisagens paradisíacas, sotaques diferentes, sabores exóticos, praias desertas ou matas fechadas. Museus, exposições, shows, arte por toda a parte como em cidades históricas. Ambientes educativos e um aprendizado ao qual estamos prontos naquele momento. Lembro-me de uma viagem que fiz com amigos, aos 24 anos. Um deles, o Maurício Miguelito, desceu comigo a fenda do Cânion Itaimbezinho. Sem água ou equipamentos de segurança. Nada era perigoso. Espiar a vida lá de baixo foi como mirar o céu e avistar Deus.

Quanto às religiões, elas nos ajudam a sobreviver ao caos que edificamos com nosso livre arbítrio. A melhor delas é a que nos liberta criando um viver entusiasmado, apesar dos obstáculos. Não dá para perder o ânimo por qualquer eventualidade. As doutrinas que incentivam a fé cega nas criaturas amarram-nas numa espécie de prisão ficando difícil o autodesenclausuramento diante do desespero. Depois de entendido isso, fica mais fácil seguir o caminho de, no meu caso, nosso amigo JC.

Já o quesito “familiares” é, talvez, o que realmente nos desafia ao crescimento. Verifique. Analise a si, a sua família e os acontecimentos da parentela ao longo dos anos e confirme. Aprende-se muito com todos. A ter paciência, por exemplo. Ai, ai. A esperar o tempo deles ou a agilizar o nosso andar para acompanhá-los. Viver em família é uma empreitada complexa a que nos propomos. É igualmente rica e intensa. Ali se formam preciosos elementos, como, o nosso caráter, os princípios morais, a ética, a generosidade ou o egoísmo.

Grandes sacadas humanas de todos os tempos, poesia e filosofia são duas senhoras milenares que nos sustentam e suavizam o caminho. Não tiram as asperezas, mas nos fazem ver as pedras, também chamadas dores, com renovado olhar. Entretanto, não tem pra ninguém: é ele, o Amor, que nos coloca num mundo jamais imaginado. Amar – o namorado, um doente, um animalzinho, um morador de rua – é tão profundo que se trata da experiência mais revolucionária que a vida nos possibilita. Viva o amor em toda a sua plenitude! Experimente! (Adriane Lorenzon)

2 comentários:

  1. Atual: "O que me ajuda a olhar o mundo", como dizem os psicanalistas "é um rebuscar" constante, à luz de nossas espectativas amarra e liberta, seus desejos e vontades!

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  2. Isa, querida,
    sempre contribuindo com suas ideias e complementando as minhas...
    Beijo grande
    Drix

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