Detalhe da urna eletrônica brasileira (Foto: autoria desconhecida)
Conhece um candidato que já demostrou incompetência, não consegue propor um projeto decente, e compra voto que é uma loucura? Ou o que “rouba mas faz”, e como autoridades têm o rabo preso ou fazem vistas grossas, continua se reelegendo? Ou o fulaninho que promete, promete... Seriam eleitos ou reeleitos por algum mágico que confirma nas urnas os votos necessários para tal intento? Ou os eleitores, ditos cidadãos, têm algo a ver com isso?
Claro que selecionar novatos não significa um maior ou menor
percentual de honestos comprometidos com o fazer público. Nesse sentido, a lei
da Ficha Limpa foi criada, justamente, para melhorar o perfil dos candidatos a
cargos políticos no Brasil: quem tem “culpa no cartório” fica impedido de
candidatar-se. Porém, a bola que levanto aqui, caro leitor, é quanto à postura,
à conduta de cada um nos processos que somos convocados a participar.
Uma década atrás, confabulava com meus botões sobre votar
nos “menos piores”. Perguntava aos amigos o que fariam naquelas eleições, pois
não havia “o” nome para elegermos. A resposta era o silêncio ou a máxima: “É assim
mesmo. Fazer o quê”? Meu irmão, mais avançadinho na prática da rebeldia, afirmava
preferir o voto nulo a escolher, por imposição, o “menos pior”. Conscientemente,
anulei meu voto pela primeira vez, e não doeu nada.
Embora tenha sido necessária, a obrigatoriedade do voto é um
constrangimento para a democracia. Num voo a Cuiabá, um juiz, ao meu lado, dizia:
“Somos obrigados a votar, não a escolher”. A desculpa para mantê-la,
afirmando-se que ninguém mais iria votar, é pequena demais. Ao contrário, milhões
de pessoas adoram política e votarão até o fim dos seus dias, por pior que seja
a lista de candidatos. Todavia, facultar o voto deverá estar associado a significativos
investimentos em políticas públicas; principalmente, na área de educação.
Se valorizamos a democracia, por certo a publicidade
eleitoral deveria nos ensinar acerca de todos os tipos de voto, inclusive o
nulo. O problema é que a “dita dura”, tão doída em nosso país, fica rondando e
servindo como justificativa ad aeternum
para formadores de opinião não debaterem temas complexos como o exercício da
escolha. Então, se for o caso, digite um número fictício. A seguir, a tela informará
repetidamente que você precisa corrigi-lo. Aperte a tecla verde de uma vez. Entretanto,
saliento, essa é UMA opção, não a única.
Com a urna eletrônica, foi-se o tempo de votar no Macaco
Tião (personagem emblemático dos cariocas de 1988)! Voto de protesto igualmente
não pode ser direcionado para políticos do tipo Tiririca ou Enéas. Já que carregamos
o fardo de, só assim, segundo alguns, mantermos a democracia, votemos
conscientemente em quem fará algo mais, num crescendo, pela educação, saúde,
pelo respeito à pluralidade de ideias, pela justiça social, cultura, cidadania...