(Arte: autoria desconhecida)
Equivocada, ao me iniciar no
magistério do ensino superior, imaginava dar as melhores aulas num espaço de
diálogo e respeito, aperfeiçoar-me sempre, ser amiga dos alunos, e como consequência
direta, ocorreria uma espécie de conformidade de opiniões; reconhecida, pelo
menos, como uma boa professora. Afinal, quem não gostaria de ter um mestre dito
cabeça aberta, democrático, responsável? Arrá! Caí do cavalo direitinho, sem dó
nem piedade!
Nelson Rodrigues, o famoso
jornalista dramaturgo, afirmava que “toda unanimidade é burra”. Entretanto, ingenuamente,
sonhei com ela. Bastou pisar na sala de uma turma de graduação como docente para
quebrar a cara. E a janela estilhaçou com pedras jogadas justamente por aqueles
que reconheceriam com o tempo que eu tinha algo mais a lhes dizer, compartilhar
minha experiência e ouvir a deles e aprender com eles. Um caminho cheio de
descobertas.
No primeiro dia letivo comigo...
Incrível, havia aula! Para desgosto dos que esticavam as férias por mais duas
semanas e depois chegavam reclamando. Pensava: como exigir pontualidade e participação
sem lhes oferecer isso? Senão, de que forma explicar conteúdos como o famoso deadline jornalístico, ou seja, o prazo
apertado que temos na profissão? Acaso a reportagem escrita por eles no futuro não
seria publicada por conta de um atraso ou deslize?
Tive aluno amoroso, amigo,
prestativo, preguiçoso, mentiroso, dramático, galanteador, falso. Porém, os
piores eram os resmunguentos. O teste de paciência era diário. Em tempos de faculdades
em cada esquina, professor é um contratado do corpo discente. Resignada, pensava:
“Afinal, são crianças grandes sob a minha tutela”. Hoje, Henry Adams me acalma:
“O professor se liga à eternidade. Ele nunca
sabe quando cessa a sua influência”.
Por mais que buscasse coerência
e afinação com uma prática pedagógica libertária e dialógica, isso não bastava.
Muitos só faltavam pedir notas sem entrega de trabalhos e simpósios presenciais
sem a presença deles. Então, eu clamava perseverança. Assim como os alcóolicos,
repetia: “Só por hoje”. Mas esse grupo era a exceção, outros tantos mereciam meu
empenho. Pelos desavisados, recitava o mantra e esperava o eclodir da semente
plantada.
Histórias como essas me
ajuda(m)ram a trabalhar a vaidade e o egoísmo e me tornar uma pessoa melhor. Contudo,
uma coisa que me deixa feliz é ouvir de um ex-aluno, atuando no campo de
trabalho, que se tivesse prestado mais atenção às minhas aulas, saberia como
contornar as dificuldades profissionais. Na hora, caro leitor, creia, não
penso: “Bem feito”! Apenas agradeço por finalmente a ficha cair e o beltraninho
se aperceber no mundo.
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