(Arte: autoria desconhecida)
Às vezes, rio de tanto mico que pago nesse mundão. Um deles refere-se
ao fato de eu me lembrar das pessoas e as mesmas nem imaginarem quem seja a
dona à sua frente. Em outras, elas se lembram de mim e eu quase morro de
vergonha quando a figura me chama com a maior intimidade: “Dri, como vai o
pessoal, o projeto, cê tá ainda lá”? Então, fico vermelhaça – nenhum batalhão
de incêndio consegue abafar o caso.
Aos 18 anos, conheci um rapaz que se encantou pela moçoila
aqui. Pedida em namoro, disse-lhe que não via possibilidade na empreitada pois
o tinha como amigo. Anos depois, enquanto procurava conhecidos que sumiram por
aí, consegui o telefone dele. Sem pestanejar, liguei para dar um oi e falar dos
rumos da vida. Ao dizer meu nome, perguntei: “Lembra de mim, Gilberto”? E ele: “Não,
nem imagino quem seja”. Toma!
Bem menos tempo atrás, outro me cumprimentou: “Adri, oi”!
Meu Deus, eu queria que o chão se abrisse. Sem reconhecê-lo, fiquei tentando
adivinhar até que caiu a ficha. Ele estava diferente e usava boné. O Paulo Sérgio
era um dos coleguinhas de escola, junto com o Felipe José e o meu primo
Paulinho, que era fera em matemática. Para mim, Paulo Sérgio era “o máximo” por
dominar o idioma da incógnita.
Certa feita, nos corredores da Câmara dos Deputados ouvi: “Oi,
Dri, tudo bem”? Sem ter a mínima ideia de quem era a carinha feliz: “Oi, tudo
bem, e você”? E a linda morena, sacando que eu nem tchuns: “Você não está me reconhecendo, né”? Porém, na maior
sem-cerimônia lasquei: “Você foi minha aluna”? O esquecimento virou um elogio.
A ex-colega mandara para o espaço 40 quilos e estava elegantérrima.
Nessa época, o deputado Orlando Desconsi (RS) assumira uma
vaga na casa de todos os brasileiros. Fiquei feliz por ele e a nova condição de
legislador. Estava cobrindo o plenário e o vi de longe. Desconsi fora um ativo
colega de movimento estudantil. A seguir, ao encontrá-lo nas vielas do Anexo
Quatro, disse: “Oi, Orlando, lembra de mim? Atuamos juntos no DCE, em 1995, na
Unijuí”. Ele: “Não, não me lembro”. Toin!
Atores, músicos, políticos e pessoas mais expostas
publicamente ouvem muitas gracinhas de fãs perguntando se eles se lembram da(o)
beltrana(o). Capaz, bem capaz! Há ainda quem não se lembre de mentirinha, ou
seja, faz de conta para não se comprometer ou se envolver. Isso é outra
história. E os que não querem saber do passado? Aliás, tem de tudo no mundo,
até quem minta para se livrar de você.
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