(Foto: autoria desconhecida)
Gosto de observar o modo de
reação de cada um em momentos que exigem uma tomada de decisão urgente e
precisa. A mudança do programa de viagem, a alteração do cardápio, a
compreensão generosa por algo fugir do anteriormente combinado. Com certa
facilidade, nessas ocasiões, minha velocidade se aproxima da presteza que o
ocorrido pede. Mas afinal, qual é a origem da dificuldade de se situar no
contexto surgido de supetão?
Se alguém desmaiar por perto,
como você procede? Grita, chora, se escabela, ou faz alguma coisa útil? Busca socorro?
Presta a primeira assistência? Tenta evitar tumulto e mais sufoco para o
acidentado, afastando os curiosos com firmeza e galhardia? E num grave acidente
com sangue, choro, vítima fatal, vai lá só de curioso ou para auxiliar? Se o resgate
já chegou, permanece no local para atrapalhar e depois espalhar para sua rede os
detalhes da cena?
Os jornalistas que produzem
telejornais diários organizam tudo antecipadamente para cada edição. Certo dia
um fato muda o traçado do roteiro e o diretor precisa decidir na hora, sem
muito tempo para refletir, qual matéria derrubar, ou seja, uma reportagem ficará
de fora porque o acontecimento está se impondo na pauta: um incêndio, um desastre
aéreo, a morte de artista famoso ou de político conhecido, uma denúncia – trata-se
do extraordinário.
Em 2005, eu e Laura decidimos
botar o pé na estrada, rumo a Pirenópolis (GO), à noite, para curtir um
feriadão com outros amigos. Sabia que corríamos os riscos inerentes ao viajar
noturno. No meio do caminho, a conhecida rodovia cheia de buracos provocou uma
fissura no pneu do carro e tivemos de pedir ajuda para o primeiro que decidisse
parar. Fiz uma oração. Ato contínuo, um soldado do Corpo de Bombeiros do DF nos
auxiliava valorosamente.
Dizem que conheceremos
verdadeiramente uma pessoa quando viajarmos com ela. Deslocar-se com quem não
aceite revisões no roteiro da jornada, desde a escolha do restaurante a
aspectos imprevisíveis da estrada, indica problemas à vista. Pode saber que
essa criatura será de difícil convivência, pois a vida é impermanente – e a tal
figura não entendeu. O tempo todo a existência nos provoca a autotransformação
para encararmos os inevitáveis reveses.
Imagine um navegante, conhecedor
dos ventos de sua rota, ao perceber um movimento estranho no ar, resista no
ajuste da vela. No século 19, meus antepassados viajavam da Itália para o
Brasil. A embarcação sofreu um abatimento, alterou a rota, e levou-os de volta
ao solo italiano. Próximos da costa natal, o comandante conseguiu corrigir a
direção. Ainda bem que havia combustível suficiente a bordo, para a máquina e
as inúmeras bocas.
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