sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A vida aos 40


Adriane Lorenzon falando do livro PODER LOCAL NO AR no Prosa em Sintonia da Embrapa - Jaboatão dos Gauararapes - PE 
(foto: Marcos La Falce )

A casa dos enta é minha morada há um ano. Com condições propícias, chegarei aos ento como Niemeyer, mas isso seria lucro. Para uns, o início da vida é aos 40 anos. O que faz sentido para quem passeava nos desacertos, desequilíbrios, controles e escolhas equivocadas. O que é, para as pessoas em geral, o período antes dos 40? Vazio? De toda forma, as quatro décadas são um dos momentos mais importantes desta autora – simplesmente porque acontece no agora.

Para a jornalista Eliane Brum, a sociedade entende que a vida começa aos 40 porque acha que a vida da mulher só então desabrocha – por estarmos ainda “bonitas”, termos a carreira consolidada, os filhos voando... Já os homens, mais crescidinhos, penso, sem tanta ansiedade no ato sexual melhoram o desempenho, ou porque conseguem bancar as contas da família que, claro, surgiu como um caminho único de felicidade, passando, finalmente, a viver.

Comigo a vida começou lá pelos 23, ao dar-me conta de algumas perguntas que nunca suspeitara delas. Não sei se elas sempre estiveram ali. O fato é que apareceram e me botaram para refletir. Em tempo passado, houve vida também; meio torta, diga-se de passagem. Caetano Veloso, no álbum Cinema transcendental (1979) vai fundo no abismo humano: “Existirmos: a que será que se destina? (...) Apenas a matéria vida era tão fina”.

Tudo o que consegui concluir não era senão a impermanência, porque logo ali, aos 28, nova fase se instalou. Para os taoístas, dizia uma amiga, é nessa idade que a gente sai, por fim, da adolescência. Não pesquisei se é isso mesmo, mas fez um sentido danado porque me vi amadurecendo, como a fruta pronta para ser apreciada intensamente. E não falo de sexo, embora Balzac reverenciasse as trintonas, pois o amor poderia ser vivido com plenitude.

Aos 36, passei por aulas com professores incríveis. Primeiro, com minha mãe. Aprendi tanto, tão profundamente, que pensei não haver mais espaço em mim. A cada nova lição, aumentava de tamanho. Não engordei tanto nos pneuzinhos localizados, porém ampliei espaços imensuráveis a olho nu. Acabei habilitando-me para a pós-graduação que inauguraria aos 40. Se é acaso para você ou porque a vida se inicia, sim, aos 40, pouco importa.

O lance é que depois que a gente cresce, não dá para encolher ou desfazer o conhecido. E quando a gente fica grande, torna-se responsável demais por todo esse conhecimento. Quando eu era pequena, minha mãe, sábia, ao analisar uma situação conflituosa entre os filhos, dizia: “Se o pequeno não entende, o grande tem que procurar entender”. Reservadas as devidas particularidades, tal orientação é indicação salutar de dirimir quaisquer pendengas.

Vou contar-lhe uma história. Diz-se que um homem veio ao mundo para viver 80 anos, 40 deles na miséria e a outra metade na riqueza. Ele poderia optar antes de nascer se preferia uma ou outra condição social primeiro. Não teve dúvida, mandou ver na alternativa dos fartos bens. Eu e você, como faríamos? O lance é que o cara escolheu, depois de matutar, a riqueza; multiplicou-a, administrou-a, dividiu-a e, com isso, viveu a vida octogenária na abundância. (Adriane Lorenzon)

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