Adriane Lorenzon falando do livro PODER LOCAL NO AR no Prosa em Sintonia da Embrapa - Jaboatão dos Gauararapes - PE
(foto: Marcos La Falce )
A casa dos enta é minha morada há um ano. Com condições
propícias, chegarei aos ento como
Niemeyer, mas isso seria lucro. Para uns, o início da vida é aos 40 anos. O que
faz sentido para quem passeava nos desacertos, desequilíbrios, controles e
escolhas equivocadas. O que é, para as pessoas em geral, o período antes dos
40? Vazio? De toda forma, as quatro décadas são um dos momentos mais importantes
desta autora – simplesmente porque acontece no agora.
Para a jornalista Eliane Brum,
a sociedade entende que a vida começa aos 40 porque acha que a vida da mulher só então
desabrocha – por estarmos ainda “bonitas”, termos a carreira consolidada, os filhos
voando... Já os homens, mais crescidinhos, penso, sem tanta ansiedade no ato
sexual melhoram o desempenho, ou porque conseguem bancar as contas da família
que, claro, surgiu como um caminho único de felicidade, passando, finalmente, a
viver.
Comigo a vida começou lá
pelos 23, ao dar-me conta de algumas perguntas que nunca suspeitara delas. Não
sei se elas sempre estiveram ali. O fato é que apareceram e me botaram para refletir.
Em tempo passado, houve vida também; meio torta, diga-se de passagem. Caetano
Veloso, no álbum Cinema transcendental
(1979) vai fundo no abismo humano: “Existirmos: a que será que se destina? (...)
Apenas a matéria vida era tão fina”.
Tudo o que consegui concluir
não era senão a impermanência, porque logo ali, aos 28, nova fase se instalou. Para
os taoístas, dizia uma amiga, é nessa idade que a gente sai, por fim, da
adolescência. Não pesquisei se é isso mesmo, mas fez um sentido danado porque
me vi amadurecendo, como a fruta pronta para ser apreciada intensamente. E não
falo de sexo, embora Balzac reverenciasse as trintonas, pois o amor poderia ser
vivido com plenitude.
Aos 36, passei por aulas com
professores incríveis. Primeiro, com minha mãe. Aprendi tanto, tão
profundamente, que pensei não haver mais espaço em mim. A cada nova lição, aumentava
de tamanho. Não engordei tanto nos pneuzinhos localizados, porém ampliei
espaços imensuráveis a olho nu. Acabei habilitando-me para a pós-graduação que inauguraria
aos 40. Se é acaso para você ou porque a vida se inicia, sim, aos 40, pouco
importa.
O lance é que depois que a
gente cresce, não dá para encolher ou desfazer o conhecido. E quando a gente
fica grande, torna-se responsável demais por todo esse conhecimento. Quando eu
era pequena, minha mãe, sábia, ao analisar uma situação conflituosa entre os
filhos, dizia: “Se o pequeno não entende, o grande tem que procurar entender”.
Reservadas as devidas particularidades, tal orientação é indicação salutar de
dirimir quaisquer pendengas.
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