sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Raça humana

(Arte: autoria desconhecida)

Um dia precisamos ser lembrados que existe algo mais do que nosso olhar consegue avistar à frente ou de que nosso pobre umbigo pretende saber. Por isso são estabelecidas datas em homenagem a temas complexos como a Consciência Negra, em 20 de novembro, no Brasil. Medida altamente positiva que nos mostra uma parte da gigantesca pluralidade dos grupos sociais que compõem o mundo. Mas até quando precisaremos lançar mão disso?


Pelo que li na área de antropologia – ciência que estuda o homem, na categoria de bípedes pensantes não existe outra espécie que não a humana. Pelo menos, por enquanto. Nesse sentido, a expressão raça negra é a maior bobajada, sem nenhum fundamento. Contudo, o que temos são etnias; aliás, múltiplas – conceito plural e distinto do simplismo que se tenta reduzir o entendimento de humanidade. A raça é humana, não importa a cor da pele.  

Em 2010, no Censo do IBGE, fiquei tentada a me definir como amarela. Minha ascendência genealógica passa pela Itália, Áustria, Espanha, Uruguai, Brasil (caboclos e índios), Portugal, França, e as Arábias... ôps... acabei caindo na África. Eu sabia que tinha um pezinho lá! Muitos antropólogos afirmam que todos descendemos de um único ancestral africano. E a minha palidez? É que a coloração original é mais para a gema do que para a alvura, o sangue ou a noite. Então não seria asiática, logo ali pertinho? A princípio, não. Mas quem dirá o contrário?

Já ao ser indagado sobre o que achava do mês da consciência negra, o ator estadunidense Morgan Freeman, concluiu em entrevista ao 60 Minutes da tevê dos EUA: “Ridículo”. Por quê, pergunta Mike Wallace. “Você vai confinar toda a minha história em um único mês”? E o apresentador: “E como vamos nos livrar do racismo”? Resposta: “Parando de falar sobre isso. Eu vou parar de chamá-lo de branco e o que lhe peço é que pare de me chamar de negro”.

Observe no dia a dia. Ao explicarmos a alguém quem é certa pessoa, personagem de um fato, falamos: “É aquele coxo, zarolho, moreninho, sarará, deficiente”... Ou ainda, partimos para o lado do ter e do glamour: “É o cara do novo Focus, a namorada do promotor, o filho do prefeito”. Tal metodologia de vida é a mesma em obtusidades e preconceitos que a anterior. Dessa forma, julga-se pela aparência, incentivando a falta de foco e amplitude na visão. Sacou?

Sem querer igualar animais racionais a irracionais – apesar de estes, muitas vezes, serem superiores, asnos, por exemplo, também têm suas particularidades. Não deixam de ser da grande família equus a que pertencem porque misturam seus asinus aos caballus. Burros, jegues, mulas, jumentos, bestas, marronzinhos ou cinzentinhos, continuam sendo muares. Isso prova que as diferenças que os destacam é o charme da coisa. No caso humano, é o que nos engrandece. Embora, para alguns, isso, sim, é que é asneira; desculpando o trocadilho...

Para a blogueira Larissa Carvalho, “o resultado do último Censo revela (...) a consciência da valorização da própria identidade entre os afro-brasileiros”. A maioria se considera negra ou parda. Todavia, os números mostram que estamos criando uma consciência integral, que extrapola a quantidade de melanina visível na epiderme. Trata-se do sentir-se humano. Em Alma não tem cor, o músico paulistano André Abujamra diz: “Percebam que a alma não tem cor, ela é colorida, ela é multicolor”. Bem isso! (Adriane Lorenzon)

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