(Arte: autoria desconhecida)
Pelo que li na área de
antropologia – ciência que estuda o homem, na categoria de bípedes pensantes não
existe outra espécie que não a humana. Pelo menos, por enquanto. Nesse sentido,
a expressão raça negra é a maior bobajada, sem nenhum fundamento. Contudo, o
que temos são etnias; aliás, múltiplas – conceito plural e distinto do simplismo
que se tenta reduzir o entendimento de humanidade. A raça é humana, não importa
a cor da pele.
Em 2010, no Censo do IBGE, fiquei
tentada a me definir como amarela. Minha ascendência genealógica passa pela Itália,
Áustria, Espanha, Uruguai, Brasil (caboclos e índios), Portugal, França, e as
Arábias... ôps... acabei caindo na África. Eu sabia que tinha um pezinho lá!
Muitos antropólogos afirmam que todos descendemos de um único ancestral
africano. E a minha palidez? É que a coloração original é mais para a gema do
que para a alvura, o sangue ou a noite. Então não seria asiática, logo ali
pertinho? A princípio, não. Mas quem dirá o contrário?
Já ao ser indagado sobre o
que achava do mês da consciência negra, o ator estadunidense Morgan Freeman, concluiu
em entrevista ao 60 Minutes da tevê dos
EUA: “Ridículo”. Por quê, pergunta Mike Wallace. “Você vai confinar toda a
minha história em um único mês”? E o apresentador: “E como vamos nos livrar do
racismo”? Resposta: “Parando de falar sobre isso. Eu vou parar de chamá-lo de
branco e o que lhe peço é que pare de me chamar de negro”.
Observe no dia a dia. Ao
explicarmos a alguém quem é certa pessoa, personagem de um fato, falamos: “É
aquele coxo, zarolho, moreninho, sarará, deficiente”... Ou ainda, partimos para
o lado do ter e do glamour: “É o cara do novo Focus, a namorada do promotor, o
filho do prefeito”. Tal metodologia de vida é a mesma em obtusidades e
preconceitos que a anterior. Dessa forma, julga-se pela aparência, incentivando
a falta de foco e amplitude na visão. Sacou?
Sem querer igualar animais
racionais a irracionais – apesar de estes, muitas vezes, serem superiores, asnos,
por exemplo, também têm suas particularidades. Não deixam de ser da grande
família equus a que pertencem porque misturam
seus asinus aos caballus. Burros, jegues, mulas, jumentos, bestas, marronzinhos ou
cinzentinhos, continuam sendo muares. Isso prova que as diferenças que os
destacam é o charme da coisa. No caso humano, é o que nos engrandece. Embora, para
alguns, isso, sim, é que é asneira; desculpando o trocadilho...
Para a blogueira Larissa Carvalho, “o resultado do último Censo
revela (...) a consciência da valorização da própria identidade entre os afro-brasileiros”.
A maioria se considera negra ou parda. Todavia, os números mostram que estamos
criando uma consciência integral, que extrapola a quantidade de melanina visível
na epiderme. Trata-se do sentir-se humano. Em Alma não tem cor, o músico paulistano André Abujamra
diz: “Percebam que a alma não tem cor, ela é colorida, ela é
multicolor”. Bem isso! (Adriane Lorenzon)
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