O muro de Berlim foi derrubado em 9/11/1989 (Foto: Ulda Zoca de Grava)
Interpelando o tempo, observo que faz alguns milênios que as
pessoas se entretêm iludidas com julgamentos e suposições acerca do outro. E este
é, quase sempre, o desviado do padrão, o diferente, o abusado – ao turvo mirar
do olhador. Então, ao me reportar à era atual, vejo que nessa diversão há um
deslumbramento com aquilo que a aparência e a hipocrisia nos mostram ou
escondem como verdade, entendimento de vida, modelo a ser seguido ou combatido...
Vamos por partes. Uma pergunta incomoda muita gente, em
especial, jornalistas. Por que Pedro Bial, repórter de eventos históricos como
a queda do muro de Berlim, em 1989, escolhe a ocupação de apresentador de um
programa de baixo nível educativo-cultural como o BBB? Ou ainda, disse alguém em
contexto distinto, por que achar que Daniel, o cantor sertanejo, não teria atributos
para avaliar um músico de MPB em recente produção global?
Para mim, o buraco é bem mais embaixo. Por que pressupor que
o referido jornalista seria modelo de criticidade e coerência? De onde vem a
necessidade de julgar com desconhecimento e preguiça de refletir sobre
criaturas que nos são apresentadas a distância? Por que inferir que fulano
deveria ser elitizado e refinado intelectualmente? Ou que beltrano não é capaz,
não é habilitado, não é suficientemente nobre para exames musicais plurais?
Sempre digo aos meus alunos: “Antes de estarmos jornalistas,
somos humanos”. Isso ocorre em qualquer área, é óbvio. E é essa condição que
nos permite “falhar”. Somos incompletos, impermanentes, suscetíveis, e, em
especial, falíveis. Ufa, que alívio! Se fôssemos magistrais, nossa onda seria
outra. Todavia, se só raros fossem certinhos, como eu ou você, seria uma
cobrança geral, jamais poderíamos pisar na bola e aprender novas lições.
Observemos a área política. Quando a “esquerda” subiu ao governo
no Brasil, pressupunha-se que não haveria falcatruas. Claro, há séculos só a “direita”
roubava, corrompia, enganava, mas a “esquerda”, jamais, até porque ela se
intitulava ilesa das seduções gananciosas. Agora sabemos que tais siglas contêm
um elemento comum: a humanidade. E, portanto, qualquer partido, sem exceção,
pode sofrer as tentações da matéria, do poder, do dinheiro...
Errado pensar, também, que se o cara é padre não estará
sujeito ao chamariz da carne. Daí os inúmeros casos de homossexualidade
enrustida, pedofilia, e daqueles que abandonam a batina porque resolveram se
casar, com mulheres, claro. É equivocado, igualmente, achar que o espírita é
perfeito porque a doutrina sugere o melhoramento interior do ser. Entenda. Antes
de qualquer bandeira levantada, somos todos pequenos bípedes rastejando para
amadurecer a mente, os sentimentos, as atitudes, a alma. Um cisco, dizia Chico
Xavier de si mesmo.
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