Agora há sapatos multicoloridos (Foto: autoria desconhecida)
Sempre me achei essa figura do título em comparação com as
pessoas com quem convivia. Quando alguém curtia alguma coisa, eu já estava em
outra onda que quase ninguém falava sobre. E é dessa forma, em tudo. Não, não
vá pensar que meu ego é tão grande a ponto de incensar-se. Não falo de grandiosidades,
tipo, a pioneira nisso, a poderosa daquilo. Falo de miudezas que no seu tempo
ganharam sentido e hoje me fazem rir de mim mesma.
Em 2009, para o lançamento de meu primeiro livro, procurava um
sapato de cor vibrante para combinar com a alegria da capa do filhote. Procurei
nas lojas de calçado de Brasília. Achei apenas dois. Um azul, de dois mil
reais, impensável para o meu orçamento. E outro, violeta, esquecido no estoque
de outra loja, com preço honesto. Meio ano depois, até hoje, as vitrines estampam
cores berrantes só para me provocar. Todo mundo, agora, adora cores fortes!
Quando o respeito às minorias ganhou ênfase nas mídias
sociais, eu devia ter uns 37 anos. Desde a infância esse tema já era lido por
minha consciência... Aos 18, vi o primeiro beijo entre dois homens, ao vivo. Aos
24, trabalhei com educação popular com agricultores sem terra e atingidos por
barragens. Aos 22, ajudei na gravação de vídeos sobre agroecologia e sementes
crioulas, temas badalados na atualidade. Ao me deparar com a vida, vou me reeducando...
Voto nulo. Isso não é novidade para mim, mas até hoje é conversa
proibida – ninguém quer falar abertamente... Ah, e não pertencimento é outro assunto
em que navego quase solitária. Não me adapto mais a qualquer conversa, público,
programeco. Quero algo mais porque o tempo da zoação e inconsequências já
passou. Porém, há amigos e parentes que ainda precisam disso. Daí que leituras,
filmes e só um bom papo são a minha melhor companhia.
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