sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma mulher à frente do seu tempo

Agora há sapatos multicoloridos (Foto: autoria desconhecida)

Sempre me achei essa figura do título em comparação com as pessoas com quem convivia. Quando alguém curtia alguma coisa, eu já estava em outra onda que quase ninguém falava sobre. E é dessa forma, em tudo. Não, não vá pensar que meu ego é tão grande a ponto de incensar-se. Não falo de grandiosidades, tipo, a pioneira nisso, a poderosa daquilo. Falo de miudezas que no seu tempo ganharam sentido e hoje me fazem rir de mim mesma.

Em 2009, para o lançamento de meu primeiro livro, procurava um sapato de cor vibrante para combinar com a alegria da capa do filhote. Procurei nas lojas de calçado de Brasília. Achei apenas dois. Um azul, de dois mil reais, impensável para o meu orçamento. E outro, violeta, esquecido no estoque de outra loja, com preço honesto. Meio ano depois, até hoje, as vitrines estampam cores berrantes só para me provocar. Todo mundo, agora, adora cores fortes!

Quando o respeito às minorias ganhou ênfase nas mídias sociais, eu devia ter uns 37 anos. Desde a infância esse tema já era lido por minha consciência... Aos 18, vi o primeiro beijo entre dois homens, ao vivo. Aos 24, trabalhei com educação popular com agricultores sem terra e atingidos por barragens. Aos 22, ajudei na gravação de vídeos sobre agroecologia e sementes crioulas, temas badalados na atualidade. Ao me deparar com a vida, vou me reeducando...

Voto nulo. Isso não é novidade para mim, mas até hoje é conversa proibida – ninguém quer falar abertamente... Ah, e não pertencimento é outro assunto em que navego quase solitária. Não me adapto mais a qualquer conversa, público, programeco. Quero algo mais porque o tempo da zoação e inconsequências já passou. Porém, há amigos e parentes que ainda precisam disso. Daí que leituras, filmes e só um bom papo são a minha melhor companhia.

Saí de casa cedo, e só aos 40 passei a ouvir amigos mudando de vida radicalmente, indo embora de onde viveram anos, dizendo que não aguentavam mais. Ou seja, volta e meia me antecipo e adianto o trote da jornada – o que é altamente cansativo, pois fico sem companhia no meu percurso. Contudo, um dia aparece alguém comentando a própria transformação, e aí, do “alto” da minha experiência, digo que a vida se dá mais ou menos assim, assado. É a “tia” Adriane entrando em ação, tentando se divertir com essa discrepância toda. (Adriane Lorenzon)

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