sexta-feira, 19 de abril de 2013

A descoberta da voz


Adriane Lorenzon em estúdio de gravação em Brasília (Foto: Elizabete Braga)

A primeira vez que entrei numa rádio foi para declamar um poema da cultura tradicional gaúcha no programa Festival de Violeiros, da Municipal 620 AM de Tenente Portela (RS). Isso era fim dos anos 1970. Imagine aquela pequerrucha cabeluda, de uns oito ou nove anos, declamando poemas com o sotaque fronteiriço carregadíssimo, ensaiando gestos de trovadora e de improvável oradora...

Depois, eu tinha uns 14 anos, o diretor dessa rádio chamou a mim e outras meninas para fazer um teste de locução. A escolhida trabalharia na emissora. Nenhuma foi selecionada. Nesse tempo, meu gosto cultural se afinava ouvindo estações como a JB 940 AM (RJ). As críticas e nãos me ajudaram na lapidação, levando-me, no futuro, a trabalhar em uma das emissoras mais importantes do país, a Câmara FM de Brasília.

Os festivais de MPB são um capítulo à parte na minha vida, pois eu levava jeito, mas não era muito afinada. Entretanto, achava que podia cantar. Não havia incentivo de ninguém, muito menos orientação musical. Apenas uma vontade muito grande de cantar. E “cantei, cantei, nem sei como eu cantava assim” (Chico Buarque). Cantei até O bêbado e a equilibrista de Aldir Blanc e João Bosco. Que tal a ousadia?

Em 1989, fui conhecer a Peperi 104,9 FM de São Miguel do Oeste (SC) e aproveitar para gravar um som do Tavito para eu participar de um festival. “A vida tem sons, que pra gente ouvir, precisa aprender a começar de novo...” Não só recebi a música gravada, como fiz um teste de locução que foi aprovado na hora, com alguns elogios e outras ressalvas a serem melhoradas. Lições e oportunidades começavam a surgir...

Assim descobri minha voz. Bem despacito entrei no mundo mágico do discurso, da expressão oral, da linguagem. E a cada dia renasço professora com a pretensão de ensinar, orientar e polir vozes, por esse mundão afora, para se expressarem melhor. Hoje, posso afirmar: soltar a voz nas estradas, como canta Milton Nascimento, em Travessia, já não quero parar. Ainda que seja somente para espalhar meu dizer. (Adriane Lorenzon)

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