(foto: autoria desconhecida)
Observadora, sempre me questiono como os agricultores sem
muitas posses e confortos sobrevivem ao terrível inverno. Por gostar do campo –
que depende da estabilidade climática para o plantio ou colheita – e viver
viajando por essas estradas, basta mudar o tempo para eu me ligar na previsão
meteorológica da região em que me encontro. É frente polar ou fria? Se frente
polar em cima de frente polar é de lascar. Como é que se vai para a roça, tirar
leite, lavar aquela imensidão de roupas acumuladas na estação gelada do ano?
Lembro-me de uma tia contando que falta roupa nos dias
chuvosos do inverno gaúcho. O vestuário não é lavado porque não seca e, se
lavado e secado à força, fica malcheiroso. Como está molhado e, muitas vezes,
cheio de lama e sujeira, o montinho vai crescendo no cesto. Logo, as doações de
agasalhos são sempre bem-vindas: para usar na lavoura, no curral, no almoço, ou
mesmo para o culto de domingo. Uma espécie de uniforme trocado diariamente.
Há ainda os pequenos produtores muito pobres que dependem da
ajuda dos outros para aliviar as dificuldades causadas pelo inverno. Aguardam
ansiosos por um cobertor, um pacote de arroz ou farinha. Sem esquecer que a
agricultura depende basicamente dos humores de São Pedro. Se chover muito é
ruim, se chover pouco desagrada, se fizer muito sol queima o broto, se formar
geada queima também, se for a geada negra então... O equilíbrio dos dias e da
farta safra depende de muito trabalho, do Senhor Tempo e de um pouco de
sabedoria...
Tem uma história que ouvi na infância, que durante um
inverno de seca tremenda no Sul do país, um agricultor do Paraná não teve
dúvida: foi acertar as contas. De arma em punho, em direção ao céu, no meio da
lavoura morta pelo sol (e pelos agrotóxicos, desmatamento e a terra esgotada
pela monocultura), disparou contra Deus. O barulho ressoou no horizonte sem
resolver o problema. Deus deve ter optado por despertar outras aprendizagens.
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