sexta-feira, 26 de julho de 2013

Inverno sem glamour

(foto: autoria desconhecida)

Observadora, sempre me questiono como os agricultores sem muitas posses e confortos sobrevivem ao terrível inverno. Por gostar do campo – que depende da estabilidade climática para o plantio ou colheita – e viver viajando por essas estradas, basta mudar o tempo para eu me ligar na previsão meteorológica da região em que me encontro. É frente polar ou fria? Se frente polar em cima de frente polar é de lascar. Como é que se vai para a roça, tirar leite, lavar aquela imensidão de roupas acumuladas na estação gelada do ano?

Lembro-me de uma tia contando que falta roupa nos dias chuvosos do inverno gaúcho. O vestuário não é lavado porque não seca e, se lavado e secado à força, fica malcheiroso. Como está molhado e, muitas vezes, cheio de lama e sujeira, o montinho vai crescendo no cesto. Logo, as doações de agasalhos são sempre bem-vindas: para usar na lavoura, no curral, no almoço, ou mesmo para o culto de domingo. Uma espécie de uniforme trocado diariamente.

Há ainda os pequenos produtores muito pobres que dependem da ajuda dos outros para aliviar as dificuldades causadas pelo inverno. Aguardam ansiosos por um cobertor, um pacote de arroz ou farinha. Sem esquecer que a agricultura depende basicamente dos humores de São Pedro. Se chover muito é ruim, se chover pouco desagrada, se fizer muito sol queima o broto, se formar geada queima também, se for a geada negra então... O equilíbrio dos dias e da farta safra depende de muito trabalho, do Senhor Tempo e de um pouco de sabedoria...

Tem uma história que ouvi na infância, que durante um inverno de seca tremenda no Sul do país, um agricultor do Paraná não teve dúvida: foi acertar as contas. De arma em punho, em direção ao céu, no meio da lavoura morta pelo sol (e pelos agrotóxicos, desmatamento e a terra esgotada pela monocultura), disparou contra Deus. O barulho ressoou no horizonte sem resolver o problema. Deus deve ter optado por despertar outras aprendizagens.

Alguns agricultores têm dificuldade de planejamento. Lá isso é. A necessidade de estocar, de se precaver para a escassez, buscar auxílio antes de o problema chegar – como na fábula da cigarra e da formiga. Contudo, vamos abandoná-los à própria sorte? Cadê a solidariedade e a fraternidade? Certamente há em nossos armários uma peça para doação que fará a diferença. Hoje o apelo é para os irmãos da zona rural, mas siga seu coração e doe para quem possa compartilhar a peça o mais breve possível. O frio, assim como a fome, tem pressa. (Adriane Lorenzon)

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