(Foto: autoria desconhecida)
Longe de mim a insônia, contudo tenho o hábito de levantar
cedo. Aliás, despertar também. Antes de pular da cama, estou de olhinhos bem
abertos, adivinhando figuras no escuro da noite. Muitas vezes, escuto galos a
cantar, cães e seus latidos amedrontadores, corujas dando um último rolé na
madrugada; e a moto do jornaleiro, o apito do trem ao longe... Além de sabiás e
tico-ticos prenunciando a alvorada.
Ao computador escrevendo e produzindo logo cedo, de vez em
quando olho em direção à janela para ver se o dia finalmente apareceu. A noite
é como um filho à espera da mãe que nunca chega do trabalho. Então, mirando a
janela, o escuro ainda se faz negro. Entretanto, quando vislumbro no horizonte
os primeiros raios de sol, a manhã que principia, ouço o alarido dos pássaros,
é como se algo me acalentasse.
Nessas horas – cinco ou seis da matina – sinto uma vontade
louca de ligar para os amigos distantes. Sempre tem alguém espalhado por esse mundão,
que eu adoraria estar conversando naquela horinha exata que meu coração está
mais aberto ao diálogo fraterno, às elucubrações pueris, à construção de
projetos de mundo melhor. Mas todos estão dormindo ou achando curtíssimo o período
na horizontal.
Minha mãe costumava me ligar cedinho. Seis e meia da manhã tocava
o telefone. Eu, no Planalto Central; ela, na fronteira gaúcha. Além de sua terna
voz, ouvia o ronquinho da bomba de chimarrão, só para me provocar – dizia. Sem
pretensão, contava-me que estava ouvindo música clássica ou o canto dos
pássaros. Minha gata Penélope, outro amor de uma vida inteira, também não
deixava por menos nessas horas. Miava insistentemente, queria companhia – estava
cansada de curtir a escuridão sozinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário