quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O julgamento de Tom Zé

Tom Zé e a arte que lembra seu julgamento no Facebook (Arte/foto: autoria desconhecida)

Já faz tempo que eu quero abordar a polêmica envolvendo o músico Tom Zé e os fãs dele. Contudo, para comentar assuntos controversos há que se ter ou se construir certa habilidade. Senão acontece aquilo que presenciamos nas discussões envolvendo futebol, religião e partido político: mera retórica, discurso vazio, ou seja, não servem para nada, a não ser para fomentar inimizades e acaloradas defesas egoicas.

Como diz meu irmão de alma, o escritor Ruy Godinho, o lance é o seguinte. Tom Zé é um dos representantes do Tropicalismo – movimento político, cultural, artístico surgido durante a ditadura militar brasileira, em 1967. O que resultou numa mudança plástica das artes, em especial, a música, não só com guitarras e misturas da ordem do sincretismo cultural, mas com a postura de vanguarda e contestadora dos integrantes.

Em 2013, Tom Zé aceitou convite da Coca-Cola para gravar com sua voz um comercial da Copa. Como cachê, recebeu R$ 80 mil. Todo mundo ficou sabendo. Inclusive o seu público que, segundo dizem, o reverenciava por ser esse eterno revolucionário da música e dos padrões estéticos. A questão é que estética não coloca o pão na mesa, e o cara sempre deu duro para sobreviver fazendo música de qualidade superior.  

Em seguida, a turba se enfureceu e decretou o julgamento de Tom Zé, assim, na boa. “Uma ‘trollagem’ babaca”, segundo o crítico musical Regis Tadeu. Com isso, Tom Zé fez até uma música chamada Tribunal do Feicebuqui. A acusação? O músico teria se vendido ao capitalismo ianque por um punhado de dólares. Perguntinha que não quer calar: e a liberdade de expressão? Chantagem barata desses fãs intitulados cult, viu!

No fim na história, não é que Tom Zé doou o dinheiro? As notinhas foram parar numa instituição de música de Irará (BA), seu rincão natal. Como diria um sábio das antigas: “Nobre é dar do que não se tem”. Mas convenhamos! Discurso certinho prescrito por uma sociedade boçal dá nisto: um espetáculo patético. O pior de tudo é um bando de estúpidos ditar o que Tom Zé deve ou não fazer, pensar, sentir... Te amo, Tom Zé! (Adriane Lorenzon)

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