Capa de CD produzido pela rádio Eldorado (foto: autoria desconhecida)
Primeiro, eu não achava nada. As aulas de história eram
sempre sobre a história dos outros – de um bando de gente que eu não conhecia,
que até já tinha morrido. Então, eu tinha mais é que decorar aquele monte de
coisa que acontecia no mundo – que não era meu éthos, do original grego, que não era minha casa – para passar nas
provas bimestrais e no terrível exame final. E passava, porque se dispensava a
reflexão.
Depois, muito tempo depois, descobri que havia uma relação
entre mim e todos os outros habitantes dessa bolinha azul de sete bilhões de
criaturas – diferentes e conexas. Descobri que esses indivíduos eram parte da
mesma casa, que é a Terra. E aí passei a me interessar. Simples assim. Aliás,
se rolava conexão, havia interesse em mim. O outro e o eu eram parte
integrante de uma mesma orquestra sinfônica.
Nessas aulas da infância, o dia 13 de maio era apenas o Dia
da Abolição da Escravatura no Brasil. A bambambã heroína era a princesa Isabel.
E os milhares de irmãos que haviam sido escravizados, desrespeitados,
subjugados, humilhados, mortos, retirados à força de sua própria vida com o
ódio atávico nos olhos do capataz e do senhor do açoite, esses pareciam
coadjuvantes de uma grande ópera trágica dos palcos.
Agora, procurando por datas comemorativas ou que prestam
homenagens, descubro que a Unesco criou, em 1997, o dia 23 de agosto como Dia Internacional
da Lembrança do Tráfico de Escravos e sua Abolição. E já com algum lastro experiencial
sobre o valor e o respeito do outro,
que é também eu, relaciono o porquê
da importância de entender o passado e reflexionar sobre os fatos que nos
antecederam historicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário