Fátima Bernardes e Gusttavo Lima (foto: autoria desconhecida)
Assistir à Fátima Bernardes, dita jornalista respeitada
porque... ah, porque cobriu não sei quantas Copas do Mundo e foi âncora oficial
do maior telejornal brasileiro – dizem, dançando músicas de rasíssimo valor
artístico, como Gatinha assanhada, cantada
ao vivo por Gusttavo Lima no programa Encontro, é constatar que “alguma coisa
está fora da ordem”, como canta Caetano Veloso, ou que nos enganaram e que esse
tipo de jornalismo representado pela citada profissional não é tão elevado
assim.
Antes da estreia, o tal programa era divulgado como fantástico,
quase de outro mundo. De “um programa só de Fátima Bernardes”, com tanto
talento, credibilidade e competência, não poderíamos esperar algo mais
extraordinário. Desculpe, caro leitor, mas quando assisti ao Jornal Nacional a
imagem jornalística da moça nunca me passou credibilidade nenhuma. Não estou
falando do ser humano por trás da comunicadora. Apenas do que ela construiu transmitindo
o noticiário televisivo como jornalista.
A propósito, foi-nos dito que devíamos render graças e loas
a tudo o que fosse exibido na televisão. Aprendemos que os que apareciam nessa
caixinha eram muito especiais, inteligentes e, de alguma forma, bem-afortunados
por conviverem com estrelas e entrevistarem, ainda que tolamente, autoridades e
celebridades. Isso constituía um pedestal indestrutível que jamais
conseguiríamos alcançar – tamanha a nossa pequenez diante de uma figura de “alta
superioridade”: o “supremo suprassumo”.
Pensemos. Maior telejornal, em que sentido? Em alcance junto
a maior parte da população. Em que condições a Globo conseguiu isso? Ah, sim,
com favoritismos junto a governos e políticos. Bem-afortunada? Uma das características
da televisão é criar falsas impressões... Programa diferente? Em quê, se toca praticamente
as mesmas músicas que os veículos comerciais, se sorri o sorriso de craquelê como
a maioria dos apresentadores, se convida a falar os mesmos representantes da
opinião silenciadora?
O patético rebolar da moça ao som do sertanejo universitário
provoca uma gastura nauseante. Mais do mesmo é mais uma dose do que temos ouvido
ou assistido nas estações comerciais de rádio ou de tevê. Tais veículos,
programas, profissionais, a cada novo período, se corrompem para divulgar o que
dará mais audiência e maior lucro em consequência. A indústria cultural nos
vende o Encontro como inédito. Mas ele é nosso velho conhecido – só que maquiado,
travestido de novo. Pronto, contei. (Adriane Lorenzon)
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