sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fã número 1

(Foto: Aryane Sanchez.// Adriane Lorenzon na plateia, Brasília, 2011)

Minha grande volta ao Teatro Nacional Claudio Santoro de Brasília foi grandiosa. Não, não, eu não sou uma atriz nem cantora voltando aos palcos depois de temporada sabática ou crise existencial. Sou encantada pelas coxias, luzes, som impecável, acústica, cenário, espetáculo e artista. Até a fila para entrar na sala de apresentações é fascinante... o burburinho, a peculiar ansiedade.

Ocorre que fiquei muito tempo sem ir a um teatro assistir a um espetáculo. Estava com sede, muita sede. E abril trouxe-me um presente: concerto na sala Villa-Lobos da Orquestra Filarmônica de Brasília – regência de Joaquim França – com a participação de Guilherme Arantes ao piano. Primeiro: não houve atraso. Respeito. Segundo: o espetáculo foi como tinha de ser: apoteótico, simples, brasileiro.

De cara, ao entrar no palco, o convidado especial avisou que se alguém o esperava de cabelos longos como nos anos 1970, podia desistir. Ele já é avô. Um poço de juventude, Arantes instigou o ânimo das pessoas com peças eternizadas no cancioneiro popular do Brasil. Começou com Meu mundo e nada mais, composta aos 16 anos, e desfilou um repertório ilustrativo dos 35 anos de carreira. Emocionou a todos!

Guilherme Arantes mostrou um lado pouco conhecido; bom humor e boas histórias não faltaram. Nasceu em São Paulo e começou a tocar piano aos seis anos. Mais tarde, cursou Arquitetura e Urbanismo na USP. Não terminou. Sentimos falta? Ao longo da vida, esse músico “recebeu” canções praticamente prontas, verdadeiros louvores: Planeta água, Pedacinhos, Lindo balão azul. Guilherme Arantes é, sem dúvida, um abençoado compositor – ledor de sinais para transformá-los em cantigas.

Segundo ele, cada país é representado por um elemento. O Japão, a eletricidade; a Alemanha, o aço; o Brasil, a água. Inúmeros são os pedidos de gravação de Planeta Água mundo afora. Mas seu autor mantém-se firme e nega todos. “Eu fui um cara que fiz (...) um hino completo, por isso eu não permito traduções (...), tentam de tudo, traduzir pro espanhol, pro francês, eu não deixo”. E segue: “Essa música nem me pertence (...) ela é um hino de um elemento que é o elemento da brasilidade”.  

Em 1976, depois de a censura proibir a execução de Baile de máscaras, Guilherme, altamente espiritualizado, fez uma promessa: se Amanhã, recém-composta, “acontecesse”, ele faria doação de todo o valor arrecadado dos direitos autorais dela. Seu interesse era torná-la conhecida do público. E a música acabou entrando na novela das oito, Dancing Days. Ela é especial, diz Arantes, porque “tornou-se um hino de uma era política, de um processo que o Brasil sofreu”. Sinta a força da poesia: “Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça, existe e é pra vicejar”.

No set list dos causos, não faltou o tórrido romance com Elis Regina e a música que reconquistou a mulher dele depois da gravação de um clipe em que ele beijava [tecnicamente] a elegante modelo Sílvia Pfeifer. A esposa o colocou contra a parede: se beijar, não precisa voltar para casa. Mas o diretor insistiu na importância do beijo para a cena. Então, pensou: uma coisa de cada vez. Beijou a moça. Depois, por sete dias, trancado num hotel, Guilherme criou o certeiro argumento da volta do casal: Um dia um adeus. “Só você, pra dar à minha vida a direção”...

Ele contou e cantou tanto. Pediu desculpas ao maestro que aguardava pacientemente o desfecho das histórias, que muitas vezes não aconteceu. A plateia ficava esperando também, mas em alguns momentos, ele já havia emendado outra história, a da música seguinte. A mãe do compositor sempre dizia que o filho vivia no mundo da lua.  E nesse embalo, minha volta ao palácio das artes teve sabor de história, regozijo e... saúde mental. O show, uma injeção de ânimo intravenosa, reaqueceu meus princípios, reavivou meus sonhos, mostrou-me o caminho a seguir. Sempre na direção da longa estrada do amor pois, como diz a canção de Guilherme Arantes, “o melhor da vida vai começar”...

(Foto: Aryane Sanchez.// Adriane Lorenzon com Guilherme Arantes, Brasília, 2011)

3 comentários:

  1. Oi Adriane,

    Faltou postar uns trechos do concerto....(trecho podeeeee).
    Pelo menos mataria nossa curiosidade.
    Nada como estar em grandes apresentações.
    Abraços

    Erich

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  2. Adriane, que maximo!! Eu amo o Guilherme Arantes!! E quem nao ama essa criatura que canta musicas de amor que ficaram registradas na nossa vida ? Quanod vi seu post ri muito da coincidencia.Nesses ultimos meses, aqui em Atenas, tenho escutado no carro, todos os dias, o CD com asmelhores musicas do G.Arantes.O show deve ter sido maravilhoso sem duvida.beijo.Brava!!!

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  3. Erich,
    já postei no facebook um vídeo de uma das músicas do show... dá uma espiada lá.
    Bjo grande!

    Goreth, ouvir Guilherme Arantes aqui no Brasil já é uma viagem deliciosa, mas estando fora, deve ter um sabor especial!
    Bjo querida!

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