sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Aprendendo a administrar


(Arte: autoria desconhecida)

Como gerenciar hoje em dia o uso do dinheiro pelas crianças? Na minha infância, o “não tem dinheiro, não tem o brinquedo desejado”, significava “não tem e ponto”. Não havia outra alternativa, nem jogar-se no chão da loja fazendo birra, muito menos botar o dedo na cara da mãe afirmando que ela ia, sim, comprar tal objeto porque eu estava mandando. Depois de refletir por alguns instantes, cheguei a uma perguntinha espinhosa: por que atualmente “não tem” significa uma infinidade de opções? Vamos pensar juntos?

Especialistas asseguram: educação financeira é fundamental desde cedo. Portanto, se a tarefa dos pais é educar e, o exemplo, a melhor metodologia, deve-se expor aos pimpolhos a importância de destinar os recursos disponíveis ao necessário – o supérfluo tratar-se-á com delicadeza. Ensinar a administração do dinheiro é mais que obrigação dos genitores, é responsabilidade. É mostrar à criança como se cuida das contas. Uma boa opção é promover uma reunião mensal, em família, com a pauta orçamento – discriminando receitas e despesas. Todos aprendendo a planejar.

Provoque a atenção de seu filho para bens caros e baratos. Isso o chama à racionalidade na hora de usar a grana. Ela não cai de árvore e tem um custo para que surja na conta bancária dos pais. Outra coisa: não dê presentes o tempo todo ao filho. Deixe para datas especiais e explique que está dando o mimo porque tem um emprego digno, pois batalha para conquistar melhor condição de vida para si e sua família. Evitar desperdícios, controlar os impulsos de consumo também é educação financeira.

Mas, afinal, como dar o exemplo? Responda rapidamente. Das últimas compras feitas, quantas eram, efetivamente, necessárias? Havia artigos dispensáveis? Arrependeu-se de quantos? Seu comportamento educa, não tenha dúvida. Daí presenciarmos cenas desastrosas em ambientes públicos de filhos impondo ordens aos pais. Os filhotes só estão repetindo o que aprenderam. O economista João Batista Sundfeld afirma que “se a mãe ou o pai são descontrolados, esse é o modelo que a criança vai copiar”.

O assunto mesada é um dos mais polêmicos. Pesquisas apontam: crianças que a recebem gastam rapidamente toda a quantia – o que ocorre com muitos adultos conhecidos nossos!
Segundo o consultor financeiro e escritor, Gustavo Cerbasi, “dar mesada ou semanada de qualquer valor sem controlar os gastos da criança é jogar dinheiro no lixo”. Pais e crianças precisam entender: “Mesada não é um dinheiro da criança. É um dinheiro da família que ela ganha o direito de administrar”, afirma.

Ensine-o, desde pititico, que a mesada será dividida em três partes: para gastar, poupar e doar. Nos gastos e investimentos, objetividade: não subestime a criança – ela entende bem as lições, apesar da pouca idade. Diga: filho, agora não é hora de comprar; os itens que vamos adquirir são estes (peça ajuda a ele para que cheque se o objetivo foi cumprido); o orçamento que temos é este (esclareça as consequências para quem gasta mais do que arrecada). Criança é ótima para aprender, sabia? Fale sempre amorosamente, mas firme.

E a poupança? Bem, poupar tem aspectos positivos. É o caso de economizar para um curso superior no futuro. Contudo, lidar com o dinheiro vai muito além de gastar hoje e poupar para o amanhã. É preciso educar para a generosidade. Ensine a criança que uma terceira parcela deve ser doada para alguém que precisa. Para tanto, reduza aquisições ao necessário, incentive e realize ações de desapego e caridade, evite ambientes que incitam o consumo. A indústria investe pesado em publicidade para crianças desejarem até o que não gostam muito.

Educação financeira se faz “com conversas de dia a dia”, salienta Gustavo Cerbasi. Muitos pais se eximem do papel de educadores por medo, incompetência ou desatenção. Saia da zona de conforto enquanto seu filho está com o terreno fértil para receber o plantio! Talvez seja mais fácil mesmo desembolsar a soma exata para atender à chantagem emocional do filho cuti-cuti. Entretanto, que adultos somos e que adultos queremos que nossas crianças sejam? “É da natureza da criança insistir, e é função paterna impor limites”, orienta a consultora Cássia D’Aquino. (Adriane Lorenzon)

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