Sócrates em sua melhor forma.
(Foto: autoria desconhecida - Getty Images)
Ninguém esperava, ninguém desejava, mas
aconteceu. O ex-jogador de futebol e comentarista esportivo Sócrates foi parar
no hospital. Ao lado dele, médicos e a esposa dedicada deram-lhe o suporte
necessário. Sobreviveu. Sócrates aprendeu tanta coisa na faculdade de medicina,
deve ter visto tanto exemplo nesse mundo – do alto dos 57 anos de vida – e,
mesmo assim, precisou trilhar o caminho da dor para aprender algo que o fizesse
modificar hábitos. Logo o “doutor” Sócrates, como é chamado.
Depois de nove dias internado, concedeu
entrevista coletiva em São Paulo, confessando ser alcoolista. “Quem usa álcool
cotidianamente é alcoólatra”, afirma. Em seguida, contou sua história no programa
Fantástico da tevê Globo. Uma revelação surpreendente para muitos. Entretanto,
para quem já se ligou que a vida é muito mais que um passeio, levou as
declarações do famoso ex-jogador como “naturais” do processo de quem busca a
dor – conscientemente – como opção de vida. Uma pena, certo?
Com um ponto cirrótico em região hipersensível
do fígado, precisou se submeter a procedimentos terapêuticos para estancar uma
hemorragia digestiva decorrente da doença. Pode-se afirmar que o fígado adoeceu,
em parte, pela própria vontade do agora enfermo. O quê? Sim, observe. O eterno
craque do futebol afirmou ser dependente do álcool “quando queria” e, se bebia,
constantemente, o fez de modo forçado, obrigado por alguém? Isso lhe é
familiar, caro leitor? Desde quando ouvimos falar em livre arbítrio, lei da
causa e efeito ou da ação e reação, e ainda, da importância de responder por nossos
atos?
Veja bem. Eu sei que estou pegando pesado,
como se diz por aí. Porém, uso o exemplo de Sócrates – tornado público por ele –
para chamar à atenção um assunto gravíssimo que permeia nossa sociedade e
insistimos não ver. O ídolo observa que não poderá beber nem fumar para poder
auxiliar na eficácia do tratamento. Sem esquecer-se da dieta rigorosa e dos
exames frequentes. A “abstinência vai ser total daqui para frente, para que meu
fígado reúna condições de se equilibrar totalmente e que não dê mais
problemas”, comenta.
Sócrates tem noção de que renasceu. “Eu não
vou beber porque eu quero que meu fígado esteja bom para que eu possa usar bem
a nova vida que eu ganhei. Ganhei outra vida e vou ter que saber usar”,
sentencia. Bingo! A gente deveria entender isso sem precisar passar pelo
caminho da dor – todavia, ela é generosa e nos ensina tanto em pouco tempo. Esperançoso e com vontade
de viver, Sócrates fala de sua experiência: “É nessas horas que a gente cresce.
Saio muito mais forte, muito maior e com muito mais compromissos e
responsabilidades que eu tinha antes”.
Mal comemorou a alta hospitalar, o
ex-meio-campista das copas de 1982 e 86 voltou a ser internado para intervenção
medicamentosa e endoscópica na segunda hemorragia digestiva – consequência danosa
no organismo dessa doença que muita gente pensa que é coisa da família do
vizinho: a dependência de álcool. E, segundo a mulher dele, Kátia Bagnarelli, a
notícia não é boa. Se em seis meses o fígado não responder positivamente, a
hipótese da substituição do órgão será considerada. “Hoje ele não pode fazer, mas a cura para a
doença (...) seria o transplante”, afirma.
Começaria,
então, uma emocionante fase. Não sem um misto de esperança e ansiedade. Se
tiver de transplantar o fígado, a fila é enorme – são cinco mil pessoas em todo
o país aguardando para receber outro órgão. O ex-atleta terá de exercitar a
paciência. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Raymuno
Paraná, a ordem de prioridade é determinada pela gravidade de cada caso. “O
Brasil tem um dos programas de transplantes do mundo mais sérios. Ele é
nacional, não há prioridades. A prioridade é ditada pelo quadro clínico do
paciente”, conclui o médico categórico. Além do mais, não há como furar a fila.
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