(Arte: TPMulheres.net)
Dismenorreia primária. Ô palavreado chique! Com 13 anos a meninada
já sabe o significado. Comigo também foi assim. As cólicas menstruais surgiram fazendo
o maior estrago e me mantendo às voltas com a catástrofe mensal. Antes de nascer,
alguém deve ter me perguntado se eu queria viver com ou sem emoção. Eu devo ter
dito: “Com muita emoção”. Perdi a
conta de receitas caseiras, dicas, chás, orientações, livros, pílula
sublingual, para tentar melhorar a situação “naqueles dias”. No final, cá entre
nós, dá uma amenizadinha. Aliviar, de fato, o suplício, só depois de cinco dias
– entretanto, no próximo ciclo...
Um rasgo sutil e crescente lá no fundo do abdome, a lombar
reclamando como se estivesse ferida, panturrilhas doendo muito. Algumas mulheres
chegam a desmaiar. Diz-se que a culpa é das prostaglandinas que promovem contrações
uterinas fortíssimas. Tudo para anunciar o
pesadelo. Em seguida, uma irritação inexplicável nos transforma numa espécie de
monstrinho. Sem falar na dor de cabeça e no desconforto: sangue, absorventes, investimentos
em remedinhos que duram até o organismo habituar-se ao princípio ativo. No
total, 20 dias de sufoco e folga de 10 em cada um dos módicos 430 meses da vida
reprodutiva feminina. Daí TDM e, não, TPM como definem os estudiosos.
A pior parte é ouvir do ginecologista: “Ah, isso é normal”. Argh!
Ato contínuo, braços imaginários se enroscam no pescoço dele e apertam, apertam...
Ainda bem que fico na vontade. Perguntei se é normal, cara pálida? Dê-me, por
favor, um remédio para aplacar a aguda sensibilidade e me colocar na lista de
pessoas civilizadas o mais rápido possível! Que eu não vomite de dor periodicamente
ou pare na emergência para um Buscopan na veia! Não quero enlouquecer de exasperação
por qualquer coisa, nem me tornar um animal irracional!
Nesse contexto, pessoas insistem em subestimar e minimizar
os sintomas ligados à menstruação. Um dia conversava com uma nova amiga que
afirmava com grande convicção: “TPM sequer existe, é bobagem, frescura.”
Respirei fundo, mas imediatamente entendi. Ela nunca sentira algo parecido, portanto, não sabia do que se tratava.
Alguns homens acham que a dor é psicológica, pura invenção nossa. Ambos confirmam
minha tese: colocar-se no lugar do outro carece, além de amor, determinação e
conhecimento para entender o processo.
Uma noite cheguei tarde a casa, peguei um pouco de chuva e o
Internacional entrara em campo. A contração era insuportável e não havia
remédio disponível. Estava sem força de procurar na lista telefônica uma
farmácia que atendesse em domicílio. Com cólica, o ânimo se esvai junto no vaso.
Peguei o ferro de passar roupas e o deslizei diversas vezes em uma toalha macia.
Deitada, coloquei-a junto ao baixo ventre. A gata Penélope, vinda de fábrica equalizada
em sintonia fina, ajeitou-se em meu travesseiro e começou a massagear minha
cabeça. Adormeci e a dor sumiu. Os bichanos são definitivamente demais!
A salvação parecia estar a caminho. Soube de uma lei
milagrosa. Poderíamos faltar ao trabalho, sem represálias e descontos, no dias
de cólica. Comemorei, agradeci. Qual o quê! Era alarme falso, talvez um projeto
de lei... Já as assassinas, muitas vezes, têm penas atenuadas se comprovarem o
álibi da menstruação no dia fatídico. Afinal, são cerca de 160 sintomas e o
descontrole acontece do nada. Tenho certeza, caro leitor: você conhece mulheres
que estão um amor pela manhã e à noite o bico dobra a esquina. Para o seu bem,
não ouse perguntar o que houve...