Ilustração extraída do blog Vida e Arte Design (Blogspot) - autoria desconhecida
Como tem gente que “sobrevive” sem uma mesa? Para mim, ficar
sem geladeira, cama ou fogão é fichinha. Mas, mesa? Não dá. Ela ocupa espaço
nobre na arquitetura de interiores onde quer que eu more. Pequena, redonda, quadrada,
de dobrar, com extensão, até escrivaninha vale. No entanto, as grandonas, de
vários lugares, são meus xodós. Ali eu me espalho, e derramo todos os materiais
de estudo, pesquisa e elaboração de palestras e textos.
Na vida de um estudante, escritor, professor, a mesa é indispensável
para organizar as ideias. Em tempos de computadores portáteis, imagine seu autor
preferido digitando a nova obra sentado num sofazinho molengo, enquanto tenta
se ajeitar para não doer as costas, não deslizar a ferramenta de trabalho... Já
em cadeira dura, sem ergonomia, o coitado terá de parar a escrita em breve. E em
pé, sem chance de produzir uma lauda sequer!
Então, quem o socorre? A mesa. Reinando absoluta em suas
construções – desde a época da máquina de escrever, dos pergaminhos em que as
obras eram transcritas (vide a Bíblia) ou na atualidade com todas as maravilhas
de apoio disponíveis –, é a mesa quem lhe dá sustentação para ideias brotarem
exuberantes. É claro que sozinha é como a andorinha, precisa de outros
elementos que completem o cenário. No caso, leituras anteriores e uma boa cadeira.
A imagem do escritor datilografando inúmeras vezes a mesma
ideia, que não sai como ele deseja, é poética. Na madrugada, sob a penumbra da
luz incandescente, inúmeras bolinhas de papel branco são amassadas e
arremessadas na lixeira. Uma afronta aos contemporâneos conceitos sustentáveis
de qualquer escrevinhador que se preze. Nesse sentido, hoje, a tecnologia contribui
para evitar o desperdício, afinal, pensamos antes se é necessário imprimir.
Na hora do alimento, não será diferente. A mesa serve as refeições
da grande família italiana, barulhenta e esfomeada diante da diversidade de
pratos; da humilde, sem muita fartura, com porções iguais para todos; ou, ainda,
da silenciosa oriental, com mesa baixinha. Minha irmã, por exemplo, adora pôr a
mesa, organizar sobre a toalha a geleia, o pão, o leite, o café, tudo para dar
mais prazer à ocasião. O que encanta os olhos toca o coração, a mente, os sentidos.
Também é à mesa que surgem, muitas vezes, assuntos delicados
dos relacionamentos humanos. Difícil é administrar a ingestão da comida com a
digestão dessas complicadas celeumas. Mulheres nervosas, filhos
indisciplinados, homens desajeitados, idosos quietos. Todos debatendo, de
alguma forma, a resolução ou o acirramento do conflito. Quiçá, em outra parte,
haverá quem esteja num jantar romântico ou num almoço repleto de oportunidades.
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