Sônia Braga e a personagem Gabriela de Jorge Amado - 1975 (foto: autoria desconhecida)
Se o assunto é convivência, ambiente de trabalho, família, é
comum ouvirmos: “Esse é o meu jeito, todo mundo tem uma maneira de ser e as
pessoas precisam me respeitar”. Ainda mais se concluirmos que nas interações humanas
é necessário que tenhamos uma dose de paciência, um bocado de tolerância e,
quiçá, um punhado de compreensão. Entretanto, o lado conveniente dessa frase me
incomoda muito. Outro dia ouvi de novo: “Eu sempre fui assim”.
Como diria um personagem de uma novela: “Epa, epa, epa, epa”!
As coisas não são bem assim. Não nascemos com a Síndrome de Gabriela. Lembra-se
daquela música? “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser
sempre assim, Gabriela.” A letra é de Dorival Caymmi e foi imortalizada na voz
da também baiana Gal Costa. Os versos parecem alertar sobre a zona de conforto que
pode se instalar e permanecer em nós por toda esta existência.
Pessoas que costumam usar essa máxima, geralmente, se apoiam
nela para continuarem a ser: carrancudos, fofoqueiros, mal-humorados,
corruptos, abusadores, gritões, enganadores, e toda a sorte de tipos que
adoram, veneram tal sentença. Sem falar naqueles que insistem em usar uma
viciação para “obrigar” os outros a “curtirem” o hábito igualmente, sugerir que
só dessa vez será usado o jeitinho brasileiro, causar polêmica para ver o circo
pegar fogo...
Entendo que, se vivemos em sociedade, o coletivo se faz
presente e precisamos aprender a nos portarmos, de modo equilibrado, nesses
grupamentos em que transitamos. Entendo que devemos respeitar o próximo sempre
que conseguirmos (infelizmente nem sempre alcançamos êxito devido a nossa falta
de habilidade com as diferenças). Entendo que as pessoas gostam de ser
respeitadas (e eu também) em suas características mais peculiares.