sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Famílias de hoje

Livro: The family book de Todd Parr

Quem não se lembra das fotos antigas de família com uma escadinha de filhos? O pai com a cara séria de provedor, e a mãe, como uma madalena arrependida; afinal, mãe de família devia se comportar, podia ser mal-interpretada. Nos tempos dos meus avós, cada núcleo tinha uns 14 filhos. Uma penca que servia de modo útil e conveniente aos pais. E não havia tempo para o afeto, o cuidado, a dedicação aos pimpolhos.

Na era de meus pais, nasceram poucos filhos. Lá em casa, apenas três. Só alguns tios se arriscaram a imitar os coelhos. E o afeto começava a aparecer na rotina diária. Hoje, todos vivemos em pequenas famílias, algumas até sem filhos, e o cuidado e o carinho ocupam um bom lugar em todas as peças da casa. As coisas mudaram, e família, com F maiúsculo, é artigo de luxo na sociedade, exigindo além de tudo, respeito e diálogo.

Tem gente teimando que família é aquela tradicional em que o homem é quem manda no negócio. Não é bem por aí. Muitas famílias estão de pé por causa da bravura das mulheres. Outras tantas são compostas por dois pais, duas mães, pai e filho, mãe e filho, tem avó que é mãe e pai, tem criança parindo criança, tem gente solitária que encontrou sentido em viver com a companhia de um bichinho de estimação... Tem de tudo. É a vida! “Existimos, a que será que se destina”, pergunta Caetano Veloso.

Nesse sentido, já na infância, conheci famílias diferentes. Uma, o pai era caminhoneiro e sempre voltava para casa com presentes. Outra, sem prole, o marido era violento e sofria de alcoolismo – ainda não classificado como doença; era sem-vergonhice, diziam. Na adolescência, a família de um amigo homossexual o aceitava em sua orientação. E, mais tarde, um cara com cinco filhos vivendo com ele, resolveu se casar de novo. Detalhe: a nova mulher também trazia um punhado: seis filhos. Ô coragem!

Para mim, família é o desafio diário do afeto, do perdão, da paciência. Não importa se tem mãe, pai, irmão. De que adianta a velha tradição, com cachorro e papagaio inclusos, se não há respeito? Melhor dois pais amorosos do que nenhum ou um violento. Simples assim. Ah! Mas a hipocrisia, embora resista às novas formações familiares, aos poucos, começa a amolecer o coração frente às evidências do amor. (Adriane Lorenzon) 

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