sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A teimosia é burra


(Arte: autoria desconhecida)

Aos 18 anos, num sábado à noite, na frente de uma danceteria em São Miguel do Oeste (SC), aguardava com amigos a abertura da casa. O papo girava em torno dos indígenas. Para mostrar erudição, larguei a pérola: “Sabe aquela arma, a barbatana”? Um atento rapazote consertou: “Zarabatana”. Percebendo a gafe, teimosa, retruquei: “Nada disso, é barbatana”. E ficamos naquela onda de, eu, teimar na burrice, e ele, defender a informação correta.

Claro, essa anedota foi importante para mim, talvez o moço nem se lembre do fato. Porém, o que me faz relatá-la, duas décadas depois, é que, de modo geral, todos somos, em algum momento, teimosos. Tal é a ignorância. Ao nos esclarecermos, saímos do limbo, do círculo vicioso. Contudo, uma parte significativa das pessoas quer ficar conhecida, parece, como sujeitos entediantes. O teimoso é chato a granel; é chato pra caramba.

Mais de uma vez, o teimoso insistiu para entrar na fila da chatice. Diz não, porque não e pronto, e ponto. Por quê? Porque sim, diz. Ou seja, nem sabe direito do que está falando. Em volta do umbigo dele há toneladas de orgulho, pesando o viver. Acha a própria opinião mais bonita, mais legal, mais certa, mais jeitosa, mais, mais. Todo mundo foge do cerco do teimoso, e o elege como o chato de galocha do ano.

Reinventar-se, a cada instante, é preciso. Limitações, como a teimosia, devemos tentar eliminá-las ou, quiçá, minorá-las, o mais breve possível – depois, na ribanceira abaixo da vida, transformações exigem força descomunal. A não ser que a pessoa tome consciência de que carece mudar, por ela ou pela saúde do mundo. Todavia, o que funciona é a autoanálise a partir de uma doença, um acidente, uma grande perda. Aí poderá haver salvação...

O teimoso é o cara que ninguém quer por perto, pois ele sempre sabe tudo; então, quem tem prazer e alegria em sua companhia? A coisa complica quando você convive com a figura e a relação precisa existir, ainda que por um tempo: o chefe, um familiar, o marido. Afinal, não mudamos ninguém só porque achamos que é necessário e, convenhamos, não dá para pedir demissão de todos os teimosos do mundo.

Entretanto, o que falta ao teimoso e ao ouvinte do teimoso? Sim, pouco se fala do lado dele. Àquele, humildade e reconhecimento de que sua pequenez é tamanha que assim procede por se sentir inferior – disfarçando-se na superioridade. A este, paciência e compreensão da situação – as opções são poucas: tolerar ou afastar-se do indivíduo que só lhe suga as energias, quer dizer, compreendê-lo o quanto pode e afastar-se quando possível.

Não me orgulho nem um tiquinho de minha teimosia do passado. Não sei quanto já eliminei dela em mim – é fato que melhorei muito nesse quesito. Portanto, é bom estar ligado. Pessoas despreparadas fomentam discussões intermináveis, e, às vezes, é preciso silenciar, mesmo quando o discernimento maior seja o nosso. É a diferença entre teimar e persistir. Para mim, depois de 40 novembros, o mais importante não é ter razão, mas ser feliz. (Adriane Lorenzon)

2 comentários:

  1. Olá Adriane!
    Com o teimoso não há dialogo e outras coisas mais. [risos]
    Parabéns pelo blog e pela postagem! Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar INFAUSTA CORRIDA no http://jefhcardoso.blogspot.com
    Abraço!

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  2. Oi, Jeferson,
    é verdade, com este tipinho, nada feito... sem chance de negociação :)
    Obrigada por acompanhar o blog... Vou dar uma espiada no seu.
    Abraço fraterno
    Adriane

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